27 August 2021


(sequência daqui) O que, na voz de quem, candidamente, confessa “I haven’t aged since I was four years old”, ganha, naturalmente, muito particulares sentidos aos quais, como acontece com os filmes de David Lynch, há que permitir que nos conduzam, sem resistência nem busca de explicação racional. Por que motivo a demolição sonora de "Bull of Heaven" desagua, sem pausa, no lirismo translúcido de "Obsidian Lizard"? Como coabitam ambos em "Before a Black Tea" onde Erin incorpora a voz de Mimi Goese (Hugo Largo)? Pode, num momento, dizer-se “take me for the music, take me for a human” e, no seguinte, “I've never been a human, but I'm a good friend”? Existe matéria nesta surreal ópera noturna para a imaginar (sugestão de Erin) como episódios inéditos das Canterbury Tales criados à imagem de The Wall (Pink Floyd), Until the End of the World (Wim Wenders) e da reinvenção da arquitectura de Nova Iorque por June Jordan e Buckminster Fuller? Ela também não sabe mas isso não tem importância nenhuma.

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