29 October 2020

Mais uma vez (sem recuos): 

As-Salaam-Alaikum!

4 comments:

André said...

Wa aleikum Salam. 'Esse quadrante cultural' enche-se de subtilezas que que não cabem numa classificação homogénea de um quadrante islâmico. A cultura islâmica, emanada directamente da seita de Medina, não tinha poesia, não cultivava literatura alguma e dedicava-se à intriga política tribal daquela região, enquanto se apropriava de preceitos religiosos dos povos do Livro (Al-Kitab, as escrituras sagradas judaicas e cristãs). Assim, a tradição cultural dum Khayyam ou de um místico Ruwi tem as suas raízes na tradição poética persa, incorporada durante expansão islâmica. A tradição matemática no Islão foi importada sobretudo da Índia, e os textos clássicos greco-romanos de cariz científico foram o modelos seguidos à risca no desenvolvimento dos dois grandes primeiros califados. Toda esta prosódia para dizer que comparar o conteúdo violento entre Corão e Bíblia pode levar a conclusões muito duvidosas. Só para dar uma ideia do erro de paralaxe considere-se o respectivo perfil dos dois textos nas respectivas comunidades. O Islão não é uma mera religião, é tambem um código de conduta social, política e até económica, expresso no Corão. É o texto jurídico fundamental para as comunidades islâmicas. Não é possível fazer uma comparação directa com a Bíblia nestes termos. O Corão, explicitamente, tem um alcance politico muito maior, sendo lei que regula o foro privado e público das gentes. Daí ter dado origem a uma série de narrativas e interpretações codificadas nos Hadith, que mantêm a malta certinha no que é halal, haram e quantas chicotadas por pecar com o presunto. Se a Bíblia ainda tem muita coisinha infundida nas leis de muito país ocidental, já no Islão o Corão é o código legal em si. Posto isto, as violências no Corão têm consequências mais gravosas e frequentes do que as da Bíblia, actualmente. Se lá diz que é para apedrejar, lapida-se com grande propriedade moral diariamente. E assim sucessivamente. Por alguma razão se diz 'Islão e ocidente' e não 'Islão e Cristianismo'. Hoje é entre os que têm fé e os que não têm. Era bom que no Ocidente se entendesse isto.

João Lisboa said...

Point taken.

(por lapsus teclae, tinha-me saído "pint taken...)

De qualquer modo, as "muitas coisinhas infundidas nas leis de muito país ocidental" só começaram a esbater-se há pouco mais de cento e tal anos - a Inquisição só foi abolida no início do sec. XIX, sobrevivendo como Sacra Congregação do Santo Ofício e, ainda hoje, como Congregação para a Doutrina da Fé.

Andre said...

Mashallah! Pint taken é muito haram! Eu gostava de chamar a atenção para o facto de o período de maior tolerância e convivência pacífica no Islão coincidir também com o grande impulso de miscegenização e apropriação cultural. Se calhar, mandar para cá engenheiros, professores, médicos, artistas, etc., e retirar a quantidade massiva de tropas presentes, levaria a muitas e necessárias reformas nesta parte do mundo. Há muito mais tropas neste momento do que houve nas Cruzadas, mesmo normalizando os valores por populações. Os efeitos são muito nefastos. São populações com fé dominadas por culturas vistas como ateias. O impacto na psicologia e identidade destas pessoas é enorme - uma grande humilhação.

João Lisboa said...

... o longo caminho do sapiens para a idade adulta...