29 August 2020

"Logo que apareça uma vacina, a capacidade de esquecimento é grande. Se aparecer uma vacina eficaz em relativo curto prazo, como tudo indica, se a recuperação económica for equilibrada, sem grandes exclusões, diferenciações sociais e conflitualidade social, do que duvido, as pessoas esquecem com rapidez. Não vai mudar muita coisa. (...) Na ignorância antiga, chamemos-lhe assim, os que eram ignorantes queriam que os filhos deixassem de o ser. Havia a consciência da ignorância ser má. Hoje há uma ignorância agressiva, falsamente igualitária e é uma das razões porque cresce a pseudociência. Cresce a pseudociência, o desprezo pela privacidade, pelas mediações, pelo jornalismo — analisar um facto não em bruto mas mediado por um saber que lhe dá contexto. Estão contra a mediação do saber académico. (...) Como se pode ser melhor preparado sem ler? Há gente que faz cursos universitários sem ler. Dizem que lêem no computador. Uma treta. Ainda estou à espera que alguém leia Guerra e Paz no computador ou num telemóvel. Há muita complacência, muita cedência à ignorância e os resultados estão à vista. O aumento de partos em casa com más condições, o mito do nascimento natural com mortes, não tomar vacinas ou medicamentos, a substituição de tratamentos por mezinhas, ir ao curandeiro em vez de ir ao médico" (JPP)

6 comments:

Táxi Pluvioso said...

“Jornalismo — analisar um facto não em bruto mas mediado por um saber que lhe dá contexto”, ahahahah, muito boa. Uma joke por dia faz o médico ir away (ou algo parecido).

João Lisboa said...

Esse tipo de jornalismo pode estar em recuo. Mas ainda existe.

Anonymous said...

É tudo farinha do saco da direita. Bloco PSD/CDS/Pacheco Pereira/IL/etc e tal

João Lisboa said...

Convém não deixar agravar a miopia.

Daniel Ferreira said...

“Jornalismo — analisar um facto não em bruto mas mediado por um saber que lhe dá contexto”

Perdoe-me a ingenuidade e corrija-me se estou enganado (dado que tem experiência em jornalismo e eu não): o jornalismo não se deveria limitar a relatar factos, cabendo a análise ao leitor? É claro que se deseja que os jornalistas tenham uma boa formação (esperando-se mais dos que se especializam em determinadas áreas), de forma a poderem distinguir melhor o que é verdadeiro do que poderá ser falso, o relevante do acessório... mas não creio que devam analisar.

Como disse, posso estar a ser ingénuo e não tenho qualquer conhecimento de jornalismo, mas é assim que sinto que devia ser, em total oposição àquilo em que os media se transformaram: um espaço de opinião e influência, onde nem as notícias sobre os assuntos mais comezinhos por vezes escapam a larachas analíticas. É por causa disso que o meu interesse pela comunicação social anda em queda livre e não faltará muito para bater no fundo.

João Lisboa said...

Não sou jornalista, nunca fui nem quis ser. Escrevo umas coisas sobre música e (às vezes) assuntos mais ou menos afins e faço, aqui e ali, algumas entrevistas.

Mas quer parecer-me que o jornalismo que se "limitasse a relatar factos, cabendo a análise ao leitor" poderia ser facilmente substituido por um microfone, um gravador e uma câmara. Que, numa apreciável parte, não é tremendamente diferente do que, hoje, existe.

"Um espaço de opinião e influência, onde nem as notícias sobre os assuntos mais comezinhos por vezes escapam a larachas analíticas" só me parece negativo quando os opinadores nem sobre as polémicas na junta de freguesia mereceriam opinar e desde que as "larachas analíticas sobre os assuntos mais comezinhos" ficassem, obrigatoriamente, à porta.

Claro que isto reduziria drasticamente o leque das escolhas. Mas isso, se calhar, até nem seria péssimo.