Hieronymus Bosch - A Morte e o Avarento (c. 1494)
"Contestar o perigo do coronavírus é certamente algo absurdo. Por outro lado, não é também absurdo que uma interrupção do curso habitual das doenças esteja sujeita a tamanha exploração emocional e traga de volta aquela arrogante incompetência que outrora empurrou a nuvem de Chernobyl para fora da França? Certamente, sabemos com que facilidade o fantasma do apocalipse sai da sua caixa para se apossar do primeiro cataclismo vindouro, para consertar as imagens do dilúvio universal e fincar o arado da culpa no solo estéril de Sodoma e Gomorra. (...) O nosso presente não é o confinamento que a sobrevivência nos impõe, é a abertura para todos os possíveis. É sob o efeito do pânico que o Estado oligárquico é forçado a adoptar medidas que ainda ontem declarava impossíveis. É ao chamamento da vida e da terra a restaurar que queremos responder. A quarentena é boa para a reflexão. O confinamento não abole a presença da rua, reinventa-a. Deixai-me pensar, cum grano salis, que a insurreição da vida quotidiana tem virtudes terapêuticas inesperadas" (Raoul Vaneigem, aqui, por sugestão nesta caixa de comentários)
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