30 December 2018

"A política do medo e a construção de inimigos públicos são formas típicas da 'governamentalidade' do nosso tempo. Desta formação paranóica, desta fabricação de um espantalho mediático, não há episódio mais ridículo (mas nada inócuo para quem sofreu as suas consequências) do que o chamado 'caso Tarnac'. Recordemo-lo: em Outubro de 2008, uns ferros voluntariamente colocados sobre as catenárias do TGV, numa das redes dos caminhos de ferros franceses, causou perturbações no tráfico ferroviário. Para o procurador do Ministério Público, essa tentativa de sabotagem tinha por trás uma assinatura, consagrada em textos teóricos, assinados por um colectivo que dava pelo nome de 'Comité Invisible', que tinha, aliás, publicado no ano anterior nas Éditions La fabrique, um livro intitulado L’insurrection qui vient. Uns filósofos anónimos, autores de pequenos livros com uma escrita tão requintada como a dos situacionistas, a sabotar o TGV e a provocar potencialmente um desastre de grandes dimensões – eis uma hipótese que o Ministério Público francês levou a sério, determinando a prisão de um dos membros do 'Comité Invisible', Julien Coupat, apresentado como 'chefe' e, por isso, chamado a responder pela 'direcção de uma estrutura de vocação terrorista', isto é, uma 'célula invisível' voltada para a 'luta armada'. Julien Coupat esteve preso durante seis meses. Nunca antes a filosofia política tinha sido levada tão a sério" (AG)

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