25 April 2018

"Nenhuma terapia alternativa tem qualquer base científica (...). Temos estudado muito isso e já não é possível dizer outra coisa. Não há nenhuma prova, por mais remota que seja, que as terapias tradicionais chinesas, a homeopatia, o pézinho chinês, as quiropráticas, a osteopatia, funcionem. (...) Não há nenhuma base científica para isto. E não havendo nenhuma base científica, temos o dever moral e ético de nos opormos firmemente a este tipo de práticas. Porquê? Porque elas são enganadoras. 

O argumento de que muita gente frequenta as terapias alternativas não é um argumento válido sob o ponto de vista científico e profissional. (...) [Os mitos em saúde] não são inócuos. Têm consequências individuais, têm consequências familiares e têm consequências coletivas e sociais. Uma delas é a aprovação recente da licenciatura em medicina tradicional chinesa. Não foram apenas os ministros da Saúde e da Ciência e Tecnologia — que são pessoas honestas, que têm uma base científica e que sabem que aquilo é uma fraude inominável —, mas os deputados que aprovaram aquilo por unanimidade. (...) A Organização Mundial de Saúde não é, na minha perspetiva, uma agência que mereça o respeito que tem universalmente, porque muitas vezes não está a agir como uma agência científica, mas como uma agência política e confunde as duas coisas. E ao confundir as duas coisas está a matá-las a ambas. As pessoas ficam sem saber se aquilo é uma recomendação política ou se é uma recomendação técnico-científica" (aqui)

13 comments:

alexandra g. said...

e o que é a Ciência, João, senão a dúvida (todos o aprendemos)?

Este tipo de discurso, absolutamente radical, não é científico, é tão dogmático quanto aquele que combate, em axiomas ocos, maladie...

João Lisboa said...

Mas ele não diz senão coisas que deveriam ser absolutamente óbvias...

alexandra g. said...

calmex, que há décadas me questiono sobre aquilo que não envolve política onde deveria existir a máxima ética política................

paradoxo? não! isenção, investigação, ética e politicamente falando.

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(e absoluta capacidade de observação diante daquilo que não consta nos manuais da medicina ocidental, que não tem - tanto quanto sei - origem divina, Mon Chéri :)

alexandra g. said...

sei que não me subestimas, João, mas revê esta matéria, sff...

João Lisboa said...

"a medicina ocidental, que não tem - tanto quanto sei - origem divina"

1) Não existe tal coisa como "a medicina ocidental". Existe apenas a medicina, área do conhecimento científico praticada de acordo com os mesmos princípios no Ocidente e no Oriente, no Norte e no Sul.

2) Não tem, de facto, origem divina mas, muito materialmente, humana. Foram precisos séculos - e muito sangue correu - para se chegar a essa preciosidade que é o método científico https://en.wikipedia.org/wiki/Scientific_method. Coisa nada transcendente mas apenas um exigente e rigoroso conjunto de técnicas, atitudes e procedimentos que permite chegar às melhores conclusões possíveis. E que, mesmo tendo-as atingido, aceita e deseja que possam ser colocadas em causa. Não é, evidentemente, perfeito nem blindado, mas é o menos imperfeito que temos.

3) O ponto é exactamente este: "Porque é que a medicina alternativa faz tão poucos estudos? Vamos estudar! Já propus isso mais do que uma vez. Se acham que os copos de água da homeopatia curam a gripe mais frequentemente do que os outros medicamentos, proponho fazermos um estudo. Arranja-se um financiamento e fazemos o estudo aqui, não tenho problemas nenhuns. Pego em seis mil doentes, três mil com vírus da gripe e três mil sem gripe, dou os copos de água da homeopatia, sigo estes doentes durante três meses e vejo qual é o resultado. É um estudo relativamente fácil de fazer. Porque é que nunca foi feito?"

Anonymous said...

Tretas e mais tretas...

Mas é assim tão necessário que as disciplinas, as áreas do saber e do tratar, se organizem segundo o Grande Critério Científico?

Pessoalmente estou-me a cagar, nesta matéria, para o atestado ou certificado 'Científico'.

Desde que funcione, é tudo o que se pretende.

E, não é verdade, que as pessoas são tratadas e melhoram através da homeopatia, acupuntura e outras medicinas complementares?

Trigo e joio, existem em todas as áreas. Incluindo a científica.

João Lisboa said...

"é assim tão necessário que as disciplinas, as áreas do saber e do tratar, se organizem segundo o Grande Critério Científico?"

Se estiver disposto a entregar-se nas mãos do primeiro Karamba que lhe aparecer, claro que não é necessário. E chama-se método científico: não é grande nem pequeno, é o que é.

"Desde que funcione, é tudo o que se pretende"

A ciência não ignora o efeito placebo. E estuda-o.

"não é verdade, que as pessoas são tratadas e melhoram através da homeopatia, acupuntura e outras medicinas complementares?"

Não, é mentira. Não considerando o efeito placebo. Que pode funcionar tanto aí como nos "milagres" de Fátima.

"Trigo e joio, existem em todas as áreas. Incluindo a científica"

E o sol é quente e o gelo é frio.

Anonymous said...

Aqui neste restaurante, coma-se a comida que comer, o cozinheiro tem sempre razão.

João Lisboa said...

Não cortei o pio a ninguém.

Preferia ficar a falar sozinho, "cheio de razão"?

alexandra g. said...

:)

1) right.
2) sublinhar "Não é, evidentemente, perfeito nem blindado"
3) a reter, o que escreveste, mas também isto: a medicina (chamei-lhe ocidental, mas podes chamar-lhe outros nomes, eu também o faço) necessita de mecenas. Quem são os mecenas? E porquê? E qual o custo? E as 'vidas'?)


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(nunca me esquecerei disto, um dos terrores que habitarão para sempre a minha memória: uma empresa da indústria farmacêutica, em megalómano, daquelas que tudo absorvem, cujo orçamento para questões de RP - podes traduzir por merda, que basicamente é o que para eles significava - era superior ao orçamento de estado em Portugal...and so it keeps moovin' same ways!)

João Lisboa said...

A Big Pharma é indústria e negócio. Que, operando numa área que tem directamente a ver com a ciência, muitas vezes, demasiadas vezes, actua exclusivamente como indústria e negócio. Com tudo o que de pior isso pode implicar.

O que, com uma OMS que "não merece o respeito que tem universalmente", torna tudo muito mais complicado. O caso da gripe A/H1N1 https://lishbuna.blogspot.pt/search/label/H1N1 deveria ter sido mais do que bastante para mandar apodrecer na prisão uma enorme quantidade de biltres.

alexandra g. said...

É ainda mais grave João, estive casada com uma pessoa naquela empresa, tu jamais (mentira, sei que imaginas) imaginarás o poder, e, naquilo que interessa, o quanto "ajuda"/não a investigação................

João Lisboa said...

Imagino, sim. E nem é preciso ter muita imaginação.

:-)