VADE RETRO
Como ensinaram alguns dos mais respeitados estudiosos da demonologia – tais que Johann Weyer (Pseudomonarchia Daemonum, 1563) e Collin de Plancy (Dictionnaire Infernal, 1818) –, a corte dos infernos não é extraordinariamente diferente de qualquer governação humana conhecida. Composta por 69 individualidades, deverão destacar-se Belzebu (chefe supremo e Senhor das Moscas e da Pestilência), Satanaz (líder do partido da oposição), Nergal (chefe da polícia secreta), Astharot (ministro das finanças) e Baal (comandante-chefe dos exércitos), não esquecendo uma considerável nomenclatura de assessores, juízes, grandes escanções, chefes dos eunucos, superintendentes das casas de jogo, e outro pessoal menor como Nybbas, “grande parasita, palhaço e charlatão”. Weyer afirmava que todos os estados europeus tinham um embaixador infernal designado e, na História Política do Diabo (1726), Daniel Defoe assegurava que “Satanás teve muitas vezes parte no método, senão mesmo no desígnio, de propagação da fé cristã”. Mas foi o bastante mais recente Gerald Messadié, em História Geral do Diabo (1993), quem – recordando que Reagan chamara à URSS “o Império do Mal” e o ayatollah Khomeini designara os EUA por “Grande Satã” – explicou que “o Diabo é uma personagem de utilização política. Ora, toda a gente sabe que a política é o domínio da mentira”. Não surpreende, pois, que, tão frequentemente, o Demónio continue a ser invocado e as propostas de vender-lhe a alma se repitam.
Paganini - Caprice No. 5 (Shlomo Mintz)
Sejamos, porém, justos: a política não tem o exclusivo do comércio com o chifrudo. Falando apenas de música (não esquecer que, segundo os Prefab Sprout, “The Devil has all the best tunes” e que os Stones lhe manifestaram a sua simpatia), Giuseppe Tartini (1692–1770) terá confessado que compôs a Sonata para Violino em Sol menor, o famoso “trilo do Diabo”, após um sonho em que com ele estabelecera um pacto, e Niccolò Paganini (1782–1840), foi acusado de ser filho do próprio Demo e de as cordas de seu violino serem feitas dos cabelos deste, ao que deveria o seu sobrenatural virtuosismo. Acerca do lendário "bluesman", Robert Johnson, conta-se que a transformação de guitarrista de nenhum talento em executante genial aconteceu após um encontro de negócios com o maligno, à meia-noite, “at the crossroads”, e os rumores sobre idêntica transacção de Jimmy Page nunca se extinguiram. Mas quem, melhor que todos, contou a história do contrato faustiano foram Tom Waits e William S. Burroughs em The Black Rider. (1993).
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