13 December 2017

METEOROLOGIA

  
No preciosíssimo Nighthawks At The Diner (1975), logo após a "Opening Intro", Tom Waits lança-se num encantadoramente rosnado "Emotional Weather Report" no qual anuncia “Things are tough all over when the thunderstorms start increasing over the southeast and south central portions of my apartment, I get upset and a line of thunderstorms was developing in the early morning ahead of a slow moving cold front”. É o mais explícito mas não o único exemplo da pequena obsessão meteorológica de Waits: no próprio Nighthawks..., há ainda "On A Foggy Night" e, em matéria de chuva, haverá que indexar "A Little Rain" (Bone Machine, 1992), "Make It Rain" (Real Gone, 2004), "More Than Rain" (Franks Wild Years, 1987), "Rain Dogs" (Rain Dogs, 1985) e "Rains On Me" (Orphans: Brawlers, Bawlers & Bastards, 2006). A que poderão acrescentar-se ainda as outonais "November" (The Black Rider, 1993) e "Last Leaf" (Bad As Me, 2011), e a ruminativa "Strange Weather" (Big Time, 1988). Chegou mesmo a fazer uma brevíssima teorização – de âmbito um pouco mais alargado – sobre o assunto: “A minha ideia é que todas as canções devem referir-se ao clima, ter nomes de cidades e ruas, um ou dois marinheiros e alguma coisa que possa comer-se, no caso de sentirmos fome”



Nada garante que a canadiana Tamara Lindeman (aliás, numa vida paralela como actriz de cinema e televisão, também conhecida por Tamara Hope), quando tratou de escolher o "pen name", tenha ido pescar nas metáforas climáticas de Tom Waits. Mas, sem dúvida, The Weather Station, ainda que não literalmente, inscreve-se nessa linhagem em que as atmosferas exterior e mental se confundem. Ao quarto álbum, aparenta ter chegado a um lugar vizinho do ocupado por Laura Marling embora Joni Mitchell, Suzanne Vega e Aimee Mann devam ser, especialmente, chamadas à conversa. Há um transbordante vai-e-vem de palavras entre o mundo supostamente objectivo e o filtro através do qual o julgamos decifrar (“With the radio on, and they're talking another shooting, floods creeping in the lowlands, everybody's shouting, and I just hold your hand” ou “Gas stations I laughed in, I noticed fucking everything, the light, the reflections, different languages, your expressions”) e um inesgotável baú de melodias e joalharia orquestral capazes de imobilizar o tempo num aforismo: “Love, it is no mystery, I love because I see”.

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