Se, por estes dias, os putos rufias do planeta – o Kim, o Donald, o Vlad-meia-leca – se engalfinhassem a sério, segundos antes de vermos surgir na linha do horizonte um fabuloso "light show" de fulgurantes cogumelos, de uma coisa, pelo menos, poderíamos estar certos: os últimos seis meses de vida do mundo "as we know it" tinham sido, musicalmente, riquíssimos. Fraco consolo para quem, logo a seguir, se iria transformar em fóssil radioactivo, espécie de estátua de sal bíblica para futuros estudiosos extraterrenos do mal sucedido projecto-homo sapiens. Mas que até contribuiria para explicar por que motivo, no grande e pérfido desígnio cósmico, os seis meses restantes de 2017 seriam desnecessários. E que, aliás, também confirmaria a tese de Arthur Koestler acerca do primata supremo, enquanto “aberração biológica resultante de um grave erro no processo evolutivo” – coisa que, na verdade, qualquer cristão, leitor atento do seu manual de instruções, sabe que, logo no Génesis, começou desastradamente mal –, Janus bifronte capaz do melhor e do aterradoramente pior.
E, musicalmente falando, indiscutivelmente do melhor, até agora, foram as tentativas para localizar alguma fugidia tranquilidade de Brian Eno (Reflection), Ryuichi Sakamoto (async), das Unthanks (Molly Drake), Julia Holter (In The Same Room) ou de Thurston Moore (Rock’n’Roll Consciousness), este em registo neo-hippie no meio de uma tempestade eléctrica. Entretanto, pela terceira vez, Dylan, com Triplicate, deu corda à orquestra do Titanic planetário enquanto Jarvis Cocker e Chilly Gonzales (Room 29) nos conduziam pela mão a espreitar através do buraco da fechadura de cada um dos quartos, e Aimee Mann ensaiava uma hipótese de diagnóstico – koestlerianamente correctíssima – a que, nada surpreendentemente, chamou Mental Illness. A comemoração dos 50 anos de carreira do veterano folk, Michael Chapman (50), e de outros tantos de vida de Stephin Merritt (50 Song Memoir) contribuiram decisivamente para manter elevada a fasquia que Memories Are Now, de Jesca Hoop, e Semper Femina, de Laura Marling, empurraram ainda mais para cima. Olhando a besta de frente, dos dois lados do Atlântico, English Tapas, dos Sleaford Mods, e The Navigator, de Alynda Segarra/Hurray For The Riff Raff, não deram tréguas mas foi dos britâncos Gnod a última palavra: Just Say No To The Psycho Right-Wing Capitalist Fascist Industrial Death Machine.
20 June 2017
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2 comments:
E ainda falta o álbum destes senhores...
https://www.youtube.com/watch?v=igQxhGksnek
Claro.
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