"O mundo do futebol português parece um campo onde tudo é possível e tudo pode ser perdoado. Na minha opinião, não há assim tantos países onde o poder do futebol seja uma forma de poder político. (...) O que me apercebi é que a justiça portuguesa tem uns 'timings' muito estranhos de acção. Às vezes é rápida, outras vezes muito lenta. Em geral, penso que a economia do futebol português é uma caixa negra que merece ser investigada. (...) Em Portugal a atitude política é nunca querer atingir com dureza o mundo do futebol" + "A economia global do século XXI é uma economia de entretenimento. O futebol é o principal pilar dessa economia de entretenimento, quem controla o futebol controla a cultura global e, de certa forma, a produção de pensamento global" (aqui e aqui)
30 June 2017
A espécie humana não é flor que se cheire mas este troglodita é uma vergonha até para uma espécie humana que não é flor que se cheire
29 June 2017
"Adoro música inglesa do século XVII. (...) Sou tipo cripto-budista-ateu. Costumava ser ateu militante, agora já não acredito em dizer a outras pessoas o que elas devem pensar. Creio que as religiões se assemelham à superstição e não gosto de ser controlado por nada daquilo que elas fazem. Não gosto do monoteísmo ou da ideia de um velho com barba lá em cima no céu a julgar-nos após a nossa morte. No que me diz respeito, bem podem fazer o pino e adorar o rato Mickey *" (à excepção da não militância - a militância é divertida! -, andas a imitar-me, pá?)
(SQÜRL)
* oh sim, sim!...
28 June 2017
Acabou-se, pá...
... é sempamemamerda, daaassseeee!... durante um anito, caraças, a malta mandou no mundo: os eurocoisos (do ludopédio e das cantigas), o picareta falante "on top of the world", a Great Fatima Swindle, a economia a lançar foguetes, chegou a pensar-se numa candidatura à chefia da Federação Galáctica... e, agora, tungas!... ardeu tudo, o salvador da pátria deu um peido, e o sangue lusitano, do mais puro que há parece que anda anémico... 'bora lá em romaria à Casa dos Bicos, pró beijinho no dói-dói...
27 June 2017
... claro que ao ex-"sit-down comedian", Marselfie, até lhe agradaria muito a ideia... mas teria de se contentar com um baterista e um guitarrista
O MAIS BELO ALIEN
Tal como acontece com praticamente tudo o que até agora vimos na terceira temporada de Twin Peaks, o percurso para o final do 3º episódio é magnificamente indecifrável e perfeito. Invertendo o sentido da narrativa, assistimos à actuação dos Cactus Blossoms – os Everly Brothers assombrados por Buddy Holly –, no “Bang Bang Bar”, imediatamente antecedida por um enigmático desabafo do especialista forense, Albert Rosenfield (“The absurd mystery of the strange forces of existence”, na verdade, a forma como, desde que concluiu Eraserhead, David Lynch se refere a Ronnie Rocket, um projecto de filme nunca concretizado), proferido no gabinete do director regional do FBI, Gordon Cole/Lynch, entre fotografias de Kafka e de uma explosão nuclear. A escutá-lo está a agente Tamara Preston, uma nova personagem que, minutos antes, nos havia sido apresentada quando Cole lhe pede imagens dos despojos humanos terrificamente mutilados, encontrados junto à misteriosa “caixa de vidro”.
Tammy Preston é, na realidade, a actriz, modelo e "singer-songwriter" Chrysta Bell, que, no seu panteão privado, abriga Nina Simone, Julie London, Etta James, Rosemary Clooney, Alison Goldfrapp e Fiona Apple. Há quase vinte anos, travou conhecimento com David Lynch – “A primeira vez que a vi actuar, pareceu-me o mais belo 'alien' que alguma vez tinha visto”, ajoelha Lynch – e, logo nesse primeiro encontro, escreveram uma canção, "Right Down To You". Teriam de esperar, porém, até 2006 para que o "coup de foudre" inicial desse um primeiro fruto público – a belíssima e muito cocteautwinsiana "Polish Poem", da BSO de Inland Empire –, mais cinco anos até um óptimo e ignorado álbum de estreia a quatro mãos, This Train (onde "Right Down To You" surgia), e outros tantos até ao nada menor EP, Somewhere In The Nowhere. Entretanto, integrada já no elenco de Twin Peaks mas musicalmente emancipada de Lynch, publica, agora, quase em simultâneo, uma versão sideral de "Falling" (a canção-tema da série, produzida pelo ex-This Mortal Coil, John Fryer), e o álbum We Dissolve, imenso pedaço de deslumbre sonoro no exactíssimo ponto de encontro de quem para ele contribuiu: John Parish (ver em PJ Harvey), Stephen O’ Malley (Sun O))) e a sufocação eléctrica), Adrian Uttley (a "torch song" segundo os Portishead) e a voz do mais belo "alien" do mundo.
Labels:
Chrysta Bell,
cinema,
Cocteau Twins,
David Lynch,
Fiona Apple,
Goldfrapp,
John Parish,
Julie London,
Kafka,
Nina Simone,
PJ Harvey,
Portishead,
Sunn O))),
televisão,
The Cactus Blossoms,
This Mortal Coil,
videoclips
26 June 2017
Queiram visitar um blog que demonstra eloquentemente quão vasto é o campo de investigação que ainda se abre aos "film studies"
(via DM)
24 June 2017
O Diabo, sem a menor dúvida, existe, existe e existe! (o Capelão Magistral confirma tudo o que diz o Sábio Mestre e, nas entrelinhas, insinua que terá sido o mafarrico a atear os fogos de Pedrógão... se calhar, porque deus anda aborrecidíssimo com a geringonça e fez de conta que não reparou nas tropelias do Demo)
... mas, quando o PS destaca o Abaixo de Lacão para defender a causa, as perspectivas não podem ser brilhantes...
23 June 2017
Havendo um grande consenso acerca de que "shit happens", parece mais ou menos adquirido que "shit happened"; é por isso que, agora, é o momento para, fazendo tudo o que deve ser feito, garantir a maioria absoluta em 2019 (não necessariamente uma boa ideia) ou nem sequer chegar lá perto (já agora, prestar imensa atenção, a tempo e horas, a outra grande catástrofe anunciada que irá, sem dúvida, unir solidariamente a pátria e provocar intermináveis esguichos de afectos, também não parece mal)
21 June 2017
"Why the new Twin Peaks is way better than the original" (oh, sim, sim!)
"Lynch is at his best when it feels as if he’s drowning you, when he mounts such an assault of unconnected sights and noises that you momentarily lose all sense of place"
20 June 2017
Se, por estes dias, os putos rufias do planeta – o Kim, o Donald, o Vlad-meia-leca – se engalfinhassem a sério, segundos antes de vermos surgir na linha do horizonte um fabuloso "light show" de fulgurantes cogumelos, de uma coisa, pelo menos, poderíamos estar certos: os últimos seis meses de vida do mundo "as we know it" tinham sido, musicalmente, riquíssimos. Fraco consolo para quem, logo a seguir, se iria transformar em fóssil radioactivo, espécie de estátua de sal bíblica para futuros estudiosos extraterrenos do mal sucedido projecto-homo sapiens. Mas que até contribuiria para explicar por que motivo, no grande e pérfido desígnio cósmico, os seis meses restantes de 2017 seriam desnecessários. E que, aliás, também confirmaria a tese de Arthur Koestler acerca do primata supremo, enquanto “aberração biológica resultante de um grave erro no processo evolutivo” – coisa que, na verdade, qualquer cristão, leitor atento do seu manual de instruções, sabe que, logo no Génesis, começou desastradamente mal –, Janus bifronte capaz do melhor e do aterradoramente pior.
E, musicalmente falando, indiscutivelmente do melhor, até agora, foram as tentativas para localizar alguma fugidia tranquilidade de Brian Eno (Reflection), Ryuichi Sakamoto (async), das Unthanks (Molly Drake), Julia Holter (In The Same Room) ou de Thurston Moore (Rock’n’Roll Consciousness), este em registo neo-hippie no meio de uma tempestade eléctrica. Entretanto, pela terceira vez, Dylan, com Triplicate, deu corda à orquestra do Titanic planetário enquanto Jarvis Cocker e Chilly Gonzales (Room 29) nos conduziam pela mão a espreitar através do buraco da fechadura de cada um dos quartos, e Aimee Mann ensaiava uma hipótese de diagnóstico – koestlerianamente correctíssima – a que, nada surpreendentemente, chamou Mental Illness. A comemoração dos 50 anos de carreira do veterano folk, Michael Chapman (50), e de outros tantos de vida de Stephin Merritt (50 Song Memoir) contribuiram decisivamente para manter elevada a fasquia que Memories Are Now, de Jesca Hoop, e Semper Femina, de Laura Marling, empurraram ainda mais para cima. Olhando a besta de frente, dos dois lados do Atlântico, English Tapas, dos Sleaford Mods, e The Navigator, de Alynda Segarra/Hurray For The Riff Raff, não deram tréguas mas foi dos britâncos Gnod a última palavra: Just Say No To The Psycho Right-Wing Capitalist Fascist Industrial Death Machine.
Ó desgraça!... Ó miséria!... Ó inclemência!... Querem dar-nos cabo dos heróis da pátria (fitinhas & all) que tanto custaram a erguer, peça por peça?!!!...
17 June 2017
16 June 2017
... dúvidas, dúvidas, dúvidas...
1 - Chamar "cigano" * a alguém é um insulto porquê?
2 - Ter "aspecto" de cigano é um insulto porquê?
3 - A definição de "cigano" é alguém que "paga os favores que recebe com votos alinhados com os centralistas" (o que, tendo em conta que a totalidade da AR votou com "os centralistas", significa que Portugal tem o primeiro parlamento integralmente cigano do mundo)?
4 - Chamar "cigano" * a alguém que "não é de etnia cigana nem tem família de etnia cigana" é um insulto porquê?
5 - Chamar "cigano" * a alguém que "é de etnia cigana e tem família de etnia cigana" é um insulto porquê?
6 - Chamar "cigana" * a uma mulher que "não é de etnia cigana nem tem família de etnia cigana" é "misoginia, racismo e xenofobia" porquê?
7 - Como deveremos passar a designar os Gypsy Kings?
8 - Por que palavra deverei substituir "cigano" em tudo o que escrevi sobre os Gogol Bordello?
9 - Por muito gebo que o eurodeputado, bastante provavelmente, seja, esta contra-argumentação não é, pelo menos, tão igualmente imbecil?
10 - * ... e não se diz "chamar de cigano", aprendam de uma vez!...
O bípede poderá ser o elo perdido entre o Neanderthal e o sapiens, mas, de facto, se os inúmeros habitantes da latrina podem, porque não haveria ele de poder também?
15 June 2017
Labels:
Arthur Russell,
Devo,
George Orwell,
Ginsberg,
John Cage,
Laurie Anderson,
livros,
Merce Cunningham,
Nam June Paik,
Oingo Boingo,
Peter Gabriel,
política,
Salvador Dalí,
Stockhausen,
televisão,
video
14 June 2017
Será que o inquilino da Casa dos Bicos não vai (outra vez!...) usar do seu enorme prestígio planetário para limpar a honra miseravelmente ofendida do "dentro de mão"?
13 June 2017
UM ACORDE
Não sei como é convosco. Mas eu trago, de fábrica, uma aplicação instalada no cérebro que, quando sonho – embora só raramente me recorde do que sonhei –, sempre que ocorre alguma situação particularmente desconfortável, bizarra ou ameaçadora, me tranquiliza e informa de que “não há nada a temer, é apenas um sonho”. A narrativa pode, então, prosseguir, sem demasiados suores frios, com essa rede de segurança protectora. Que, aliás, também me anuncia o exacto momento no qual, insensivelmente, passo da vigília ao sono: aquele em que me apercebo de que o filme a desenrolar-se, involuntariamente, perante os olhos fechados, começa a seguir por vias peculiares e absurdas, a cada instante incluindo menos fragmentos do que, segundos antes, parecia ser ainda “a realidade”. Agora que a obra de David Lynch está de regresso (a terceira temporada da assombrada série Twin Peaks, a reexibição em sala, de Mulholland Drive e Fire Walk With Me, bem como a estreia de David Lynch: The Art Life – de Jon Nguyen, Olivia Neergard-Holm e Rick Barnes –, Twin Peaks: The Missing Pieces – recolha de sequências “caídas na mesa de montagem” – e uma colecção de cerca de 20 curtas-metragens nunca antes exibidas comercialmente), recordei-me de como, perante a maioria dos seus filmes, a atitude a adoptar é justamente a mesma que face aos sonhos: deixar-se ir atrás deles sem resistência nem medo, não procurando outra lógica ou explicação que não a (inexplicável, por muito que Ziggy Freud se tenha esforçado) dos próprios sonhos.
E, desde Blue Velvet – com excepção de Inland Empire –, aceitando o irrecusável convite à viagem da música de Angelo Badalamenti. Num dos meus sonhos mais inesquecíveis (se tivesse podido conhecê-lo, o farsante de Viena chamava-lhe um figo!), em silêncio, subia lentamente uma escarpa íngreme, à beira do mar, até ao topo. Lá chegado, deparava com uma cabana. Entrava e, num balcão, alguém, invisível, sem dizer uma palavra, enfiava-me num dedo, um anel. De madeira. Corte súbito: encontrava-me, agora, no interior de uma imensa taça negra, uma semi-esfera côncava, que flutuava sobre a superfície do oceano. Plano subjectivo único, imóvel e infinitamente prolongado. A envolver sonoramente tudo apenas um interminável acorde de orgão de tubos barroco, suspenso no tempo, como uma tocata de Bach paralisada num "frame". Toda a música que Badalamenti compõe para a filmografia de David Lynch é, tão só, o desdobramento desse acorde.
Subscribe to:
Posts (Atom)