30 May 2017

HIPPIE 


Radieux Radio é uma misteriosa personagem que, mesmo que exaustivamente procurada nos labirintos do Google, teima em apenas surgir quando associada ao nome de Thurston Moore. Nem uma imagem, nem uma referência exclusivamente em nome próprio. E nunca ficamos a saber muito mais do que “Radieux Radio is a London-based activist, poet and artist”, colaborador de Moore em eventos de poesia, música e residências artísticas ou, pela boca do próprio Thurston, que se trata de “um poeta transgénero meu amigo que me envia ‘sweet lines’ para as minhas canções. Noutro dia, estava à procura de um título e ele enviou-me uma mensagem só com uma palavra: ‘telepatia’. Era o título perfeito”. Hum... Debrucemo-nos, pois, sobre Rock’n’Roll Consciousness, o ultimo álbum de Thurston Moore e inspeccionemos à lupa as contribuições de Radieux. Por exemplo, logo a abrir, "Exalted": “Peyote walker, sweet talker, soul stalker, spell weaver, receiver, herb-stink shaman, morphine woman, my opium girl, the free grass world, (…) I name her Arethrean”. Algures na net, alguém a descreve como “a drug-infused visit from sacred womyn (sic), sibyls, prophetesses, oracles, and goddesses reclaiming consciousness”… Experimentemos "Cusp": “Our consolations, they finish, when world karma heart is yours, (…) my divine source of love, the talisman under crescent sphere”



O caso complica-se… e, perigosamente, muito mais ainda quando, em entrevista ao “Sidney Morning Herald”, Moore revela que o título do álbum lhe surgiu durante um curso de escrita criativa que orientou na Naropa University, em Boulder, no Colorado. Sim, Naropa, “a primeira universidade contemplativa dos EUA”, berço do “mindfulness movement” onde os “naropians” (é verdade, juro!) podem licenciar-se em “contemplative art therapy”, “contemplative psychology” ou “buddhist psychology”. Não há outra forma de o dizer: Thurston Moore, aos 50 e tal anos, virou hippie e receia-se seriamente que não haja caminho de regresso. Consolemo-nos, então, com o facto de, musicalmente, Rock’n’Roll Consciousness ser o seu melhor álbum desde o fim dos Sonic Youth: com Debbie Googe (My Bloody Valentine), Steve Shelley e James Sedwards – a mesma equipa do anterior The Best Day (2014) –, é uma poderosa descarga eléctrica no ponto de encontro entre SY, Feelies, Television e Crazy Horse como há muito apetecia escutar.

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