É um aborrecimento. Ninguém quer ir abrilhantar a cerimónia de inauguração da presidência de Donald Trump. Elton John escusou-se alegando que é inglês, não tem nada a ver com a política norte-americana, não joga na equipa dos Republicanos e já tinha, aliás, protestado contra a utilização da sua canção "Rocket Man" na campanha eleitoral. Com justificações várias, outras vedetas nem sequer particularmente politizadas ou militantes – Celine Dion, Andrea Bocelli, Garth Brooks – pediram dispensa. Em pânico, o "staff" de Trump, contratou Suzanne Bender (produtora de êxitos de televisão como “American Idol” e “America’s Got Talent”) para a específica missão de recrutar celebridades. O alvo eram espécimes como Justin Timberlake, Katy Perry, Beyoncé e Bruno Mars. Mas, se em relação ao apolítico Mars ainda poderiam sonhar, os restantes, sonoros apoiantes de Hillary Clinton, eram óbvios tiros na água. Nada feito: mesmo com garantia de cachets chorudos e futuras honrarias, nenhum aceitou. Um bocadinho mais humilhante foi a não comparência de uma única "marching band" das escolas públicas de Washington D.C. que haviam participado nas cinco últimas inaugurações presidenciais: aparentemente, os miúdos não manifestaram interesse em desfilar pela Pennsylvania Avenue festejando Trump.
E, assim, indo pela cadeia alimentar das notabilidades abaixo, o elenco encontra-se reduzido à equipa B dos Beach Boys (sem Brian Wilson nem Al Jardine), a uma ex-concorrente do “America’s Got Talent”, Jackie Evancho, e ao Mormon Tabernacle Choir, essa veneranda instituição da pitoresca seita religiosa que acredita num Deus residente no planeta Kolob e apenas em 1978 se resignou a admitir negros no seu seio. A cerejinha no topo do bolo seriam, porém, as manobras de pressão para que a companhia feminina de dança do Radio City Music Hall, The Rockettes (que, curiosamente, também só integrou bailarinas afro-americanas a partir de 1987), se apresentasse ao serviço. Inicialmente pressionadas pela AGVA – o sindicato (!) dos artistas de variedades – com ameaças de despedimento, perante o protesto público de muitas (“Seria chocante actuarmos para um homem que defende tudo aquilo a que nos opomos”), ficou acordado que somente seriam convocadas aquelas que, livremente, o desejassem. O que, naturalmente, não evitou que, de imediato, se comentasse quão apropriado seria, na tomada de posse de Trump, haver um grupo de mulheres obrigadas a usar o corpo contra a sua vontade...
7 comments:
Uma delícia. O que eu gozei... :-)
:-)))
https://www.publico.pt/2016/12/31/mundo/noticia/uma-nova-ordem-internacional-1756513
Food for thought.
Mas demasiado "afirmativa" num terreno em que, nesta altura, exibir tantas certezas não é o melhor dos sinais.
Posso partilhar no facebook? Bom ano
Este senhor foi assessor do prof. Cavaco para assuntos constitucionais!!! Também achei a 2ª parte optimista demais.
"Posso partilhar no facebook?"
Claro. Bom ano.
Post a Comment