EPIFANIAS
Thurston Moore (ex-Sonic Youth, coleccionador voraz e editor) não tem dúvidas: nunca correremos o risco de não existir mais música por descobrir. E, ao número de Maio passado da “Uncut”, enumera os vastos filões a garimpar: “Archives of dialects, extensive collections of our voices and their nuances, gospel church choirs, obscure Cherokee peace dances, Everglade alligator songs, Maori friendship movements, poet spoken-word treaties, ballads of the Civil Rights era(s), fado cries for sailors, modernist compositions that have had the power to elate or destroy our soul, reggae with a compassion no man has without song”. E, panfletarizando o assunto, acrescenta: “Em lojas de discos bem abastecidas, são todos bem-vindos. Não é refugo para DJs, nem escória de coleccionadores. Estes lugares são bibliotecas. Nunca se esgotarão novos territórios sonoros – poderá apenas haver alguma escassez de ouvidos atentos e de corações prontos a bater”. Entre outros lugares de peregrinação, refere a Honest Jon’s de Portobello Road, em Londres, onde, um dia, após quase insana demanda do Graal, num instante de puríssima epifania para ateus, me foi depositado nas mãos – pelo igualmente extático "Honest" Jon Clare original? – o vinil de Promise Nothing, de Virginia Astley.
No dossier da “Uncut”, são referidos o coleccionador compulsivo brasileiro, Zero Freitas (6 milhões de vinis "and counting"), as lendárias (re)descobertas de Rodriguez, Linda Perhacs, William Oneyeabor, Lewis Baloue ou Elyse Weinberg e compilações preciosas montadas a partir de pepitas dispersas e/ou perdidas como Ork Records: New York, New York, da Numero Group. From The Outside, de Bert Jansch, é um dos mais recentes exemplos. Publicado originalmente na Bélgica, em 1985, numa edição de 500 exemplares, seria, fugazmente, reeditado em CD (1993 e 2001) e, desde então, permaneceria com o estatuto de raridade na discografia do sombrio e fabuloso guitarrista (morto há 5 anos), fundador dos Pentangle. Finalmente reeditado, agora, pela Earth Recordings (mas também apenas 1000 cópias "worldwide"...), é Jansch – voz, guitarra e banjo – em regime de produção-zero, às mãos de tarefeiros de estúdio de Londres e Copenhaga, reduzido à essência, “watching the dark” com a mesma feroz intensidade que nos habituámos a esperar de Richard Thompson.
2 comments:
http://www.metmuseum.org/art/metpublications/titles-with-full-text-online?searchtype=F
Óptimo. Obrigado.
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