01 June 2016

O COISO


Há duas semanas, a Penguin Random House anunciou que, no próximo mês de Setembro, irá publicar uma versão "abreviada" de O Código da Vinci, de Dan Brown, dirigida a um público “young adult”, isto é, leitores entre os 14 e 21 anos. Brown mostrou-se entusiasmado com o projecto e, num registo próximo da ficção de terror, confessou que, se não tivesse sido, digamos assim, escritor, seria, seguramente, professor. Na realidade, há que reconhecer que ele está em perfeitíssima sintonia com as mais actualizadas tendências pedagógicas como, por exemplo, as que foram defendidas, no congresso “Língua Portuguesa: Uma Língua de Futuro”, realizado em Coimbra, em Dezembro último. Procurando-se um cânone literário para os sistemas de ensino dos países de língua portuguesa, aí se propôs que “as obras devem privilegiar textos de natureza narrativa e descritiva, de mais fácil compreensão por parte dos destinatários ideais que são os alunos dos vários graus de ensino”. Generosamente, admitir-se-iam excepções como Eça de Queiroz e Machado de Assis. Mas nada de exageros que as jovens mentes são frágeis e fatigam-se com facilidade.


Pelos vistos, até com a sofisticadíssima literatura de aeroporto de Dan Brown que, insatisfeito com as vendas de 82 milhões de exemplares do Coiso da Vinci – também, aliás, no top de livros doados para venda em segunda mão nas lojas da Oxfam, o que demonstra a profunda admiração que suscitou em quem o leu -, deseja, agora, levar até aos moços uma versão previamente mastigada da trafulhice “histórica” através da qual deu uma nova vida ao mercado literário dos “esoterismos” com molho de templários, Santo Graal, Opus Dei e detalhes tórridos, inéditos e escandalosos sobre a vida íntima de personagens de ficção como Jesus e Maria Madalena. E é aqui que seria interessante averiguar se Brown é fã dos Jefferson Airplane. Porque, em 1972 (31 anos antes do Coiso), no álbum Long John Silver, em "The Son of Jesus", Grace Slick & Cº tinham já o "plot" inteirinho: “Jesus had a son by Mary Magdalene (...) Jesus raised him loud, mother Mary raised him proud (…) the child knew the secrets of Egypt and Isis (…) So you think young Jesus Christ never had a lady and you think young Mary never saw him smile wide and free, you won't read it in the Bible”. Houvesse um mínimo de gratidão e os Airplane teriam ganhado uns cobres valentes figurando na BSO do pastelão cinematográfico – "d’après" o Coiso - de Ron Howard...

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