22 February 2016

"Escrevi-o há 30 anos: o que se passa no mundo não é um fenómeno de imigração, mas de migração. A migração produz a cor da Europa. Quem aceitar esta ideia, muito bem. Quem não a aceitar, pode ir suicidar-se. A Europa irá mudar de cor, tal como os Estados Unidos. E isto é um processo que demorará muito tempo e custará imenso sangue. A migração dos alemães bárbaros para o Império Romano, que produziu os novos países da Europa, levou vários séculos. Portanto, vai acontecer algo terrível antes de se encontrar um novo equilíbrio. Há um ditado chinês que diz: 'Desejo-te que vivas numa era interessante'. Nós estamos a viver numa era interessante" (Umberto Eco)

7 comments:

alexandra g. said...

Li a entrevista quando foi publicada (um milagre, que costumo andar nisto da imprensa com um mínimo de 2/4 dias de atraso):

"A migração dos alemães bárbaros para o Império Romano, que produziu os novos países da Europa, levou vários séculos."

Lembrei-me, então, que aquilo que ele queria dizer, não era exactamente "bárbaros", antes a sua cristianização, ou assim me pareceu. Também me lembrei da ainda matéria nobre, nas aulas de História, que constitui "a invasão árabe"...

João Lisboa said...

"A migração dos alemães bárbaros para o Império Romano, que produziu os novos países da Europa", i.e, a queda do império romano.

alexandra g. said...

Sim, claro, não li somente o Eco, li muitos outros, antes dele, para perceber isto. De resto, sabemos que não existiam exactamente países, como hoje os conhecemos, e talvez esteja aí parte essencial do texto.

O Eco chegou-me primeiro com A Biblioteca, depois O Nome da Rosa e mais alguns (depois busquei-o nas suas outras vias, o ensaísta, o colunista, o gajo de todos os dias).

E, deixa que acrescente, a morte dele constitui para mim uma extrema incorrecção. Pergunto-me quem corrigirá tamanho desaforo :)

João Lisboa said...

"a morte dele constitui para mim uma extrema incorrecção"

Atirei-me à (comprida) prateleira com os livros dele e pus-me a relê-lo. Depois, para me vingar, escrevi. No próximo sábado, num quiosque perto de si.

alexandra g. said...

Merci, Be Goode, Johnny, lerei:)

Anonymous said...

Ecos do Eco...

"É a civilização capitalista, com as suas componentes políticas e culturais que os ideólogos socialistas aborrecem tal como aqueles que sem militarem expressamente a favor da versão totalitária do socialismo, tomam por adquiridos os seus principais postulados. Em última análise são os valores que são condenados e não apenas os insucessos práticos de um sistema de produção. O indício desta origem moral reside aliás nisto da condenação ocorrer com tanta virulência em caso de sucesso como de fracasso do sistema. Os anos de vacas gordas, a sociedade de consumo, o "emburguesamento da classe trabalhadora" são objecto do mesmo desprezo céptico e reprovação acidulada que as crises, o desemprego, a inflação. Quer os frutos estejam maduros e sumarentos ou secos e mirrados estão sempre envenenados".- Jean-François Revel, La tentation totalitaire, 1976.

João Lisboa said...

Exacto.