02 December 2015

BRITISH OCEAN POWER

  
As "brass bands" e, em particular, as "colliery brass bands" – bandas filarmónicas de trabalhadores das minas de carvão – são das mais vibrantes manifestações culturais das comunidades populares e operárias britânicas. Surgiram no início do século XIX – a mais antiga e ainda em actividade, Stalybridge Old Band, dos subúrbios de Manchester, foi fundada em 1809 – e desempenharam sempre o papel de orgulhosas guardiãs das identidades locais. Exactamente há 30 anos, após doze meses de greve geral contra o programa de Margaret Thatcher para o encerramento de mais de centena e meia de minas, os mineiros de Grimethorpe (a aldeia mais pobre do Reino Unido), derrotados, reuniram-se no centro da povoação e marcharam de regresso ao trabalho, significativamente, atrás da Grimethorpe Colliery Band, a mais celebrada "brass band" britânica que viria a figurar no filme Brassed Off (1996), justamente acerca da dramática desactivação do pit de Grimethorpe. Se, em The Unthanks with Brighouse and Rastrick Brass Band (2012), o grupo das irmãs de Northumbria passara já o seu reportório pelo crivo dos aclamados sopros do West Yorkshire, agora, foi a vez de os vizinhos de Cumbria, British Sea Power, fazerem o mesmo com a Foden’s Band (de Cheshire) e a londrina Redbridge Brass Band. 



Nada de verdadeiramente extraordinário se tivermos em conta que os autores de The Machineries Of Joy e Valhalla Dancehall ostentam no currículo actuações na Grande Muralha da China, no observatório de Jodrell Bank ou a bordo do Cutty Sark (o último veleiro da rota do chá e património nacional da genuína força naval britânica) numa noite particularmente tempestuosa de 2013 em que, durante a projecção do documentário From The Sea To The Land Beyond, interpretaram ao vivo a banda sonora que, para ele compuseram. Sea Of Brass (em CD de estúdio ou "box-set" de 3CD, incluindo gravações ao vivo, e DVD) é, então, literalmente, a ampliação da banda para um autêntico British Ocean Power, um exercício milagrosamente feliz de "over the topness" sem remorsos, no qual os arranjos de Peter Wraight não ambicionam respeitabilidade erudita mas sim um registo festivo e celebratório, quem sabe, muito apropriadamente inspirado pela Water Music, de Haendel. 

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