05 June 2015

UMA HISTÓRIA ÉPICA


A mãe, Emily, era bisneta de Cornelius Vanderbilt – o magnata de origem holandesa, que edificou um império assente na rede de caminhos de ferro norte-anericanos e uma das mais poderosas dinastias WASP –, e o pai, John Henry, filho de um general da Guerra Civil, era advogado e próspero banqueiro. A família herdara um palácio de cinco andares na 91st Street, junto ao Central Park, com escadarias de mármore, elevadores, biblioteca, court de squash, e um salão de baile com lotação para 200 pessoas. Nas Vitrolas dos modelos mais recentes, escutava-se, em permanência, Mozart, Beethoven e Brahms e os cinco meninos da família Hammond tinham aulas de música em casa, com professores particulares. O mais novo, John Henry Hammond II, nascido em 1910, tinha estudado viola de arco mas, desde muito cedo, preferia-lhe, claramente, a música negra.



Após a obrigatória (e falhada) passagem pelo curso de Direito de Yale, o interesse pelo jazz, a música popular e a escrita acerca deles (e das questões políticas e sociais associadas), falaram mais alto e, nos restantes 50 e tal anos da sua vida, na qualidade de produtor discográfico, devemos-lhe a “descoberta” de Billie Holiday, Aretha Franklin, Count Basie, Bob Dylan, Leonard Cohen, Robert Johnson, Arthur Russell, Benny Goodman e Bruce Springsteen. É um dos "indies" (os "record men" verdadeiramente amantes da música e de diamantes em bruto) em luta contra os "cowboys" (os tubarões da indústria) de Cowboys And Indies: The Epic History Of The Recording Industry, recém-publicado clássico instantâneo com quase 400 páginas, de Gareth Murphy. Começa, bem nos primórdios, pelas invenções fonográficas de Bell, Edison e Berliner, prossegue cronologicamente, de década em década, revelando as inúmeras e coloridas personagens de um meio de que apenas conhecemos os frutos e, só raramente, as emaranhadíssimas e problemáticas raízes, e desagua na mui acidentada actualidade, que, “observada do cimo da montanha, se assemelha a um incêndio florestal, o qual, embora cruel, será, talvez, apenas uma parte dos ciclos épicos da Mãe Natureza. Por estranho que pareça, segundo ensinam os cientistas, as florestas precisam de um fogo catastrófico em cada século para renovarem o solo de que se alimentam”.

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