20 June 2015

"(...) Tudo isto vem a propósito da palavra que mais me veio à cabeça – bem sei que uma cabeça muito deformada pelo 'ressabiamento' por este governo não me ter dado um cargo qualquer – quando ouvi o debate parlamentar com o Primeiro-ministro na sexta-feira passada. Como ele está lampeiro com a verdade! Lampeiro é a palavra do dia. Lampeiros com a verdade, neste governo e no anterior, há muitos. Sócrates é sempre o primeiro exemplo, mas Maria Luís Albuquerque partilha com ele a mesma desenvoltura na inverdade, como se diz na Terra dos Eufemismos. E agora Passos deu um curso completo dentro da nova tese de que tudo que se diz que ele disse é um mito urbano. Não existiu. Antes, no tempo do outro, era a 'narrativa', agora é o 'mito urbano'. (...) Então como é? O país está mal ou não está? Está. Então deixem-se de rituais estandardizados da política de salão e conferência de imprensa, deixem-se de salamaleques politicamente correctos, mostrem que não querem pactuar com o mal que dizem existir e experimentem esse franc parler que tanta falta faz à política portuguesa" (JPP)

4 comments:

Anonymous said...

JPP no seu melhor. Mais um mesito e temo-lo 'eu não vos disse' sobre o Sócrates, livre da cadeia.

Anonymous said...

O José Pacheco Pereira é mais um dos que, com maior frequência, só não relincha por modéstia.
Hoje deu-lhe para vaguear pelos peristilos da retórica lusa contemporânea como se, ele, não fizesse um frenético uso da facúndia.
E o pior é que sem que disso, extraia a sociedade a mais pequena vantagem.
Isto apesar de, com rigor, 1 - concordarmos quanto à substância e 2 - discordarmos quanto ao(s) sujeito(s) – é que também acho, como escreve Pacheco Pereira, que «enquanto isto não for varrido pelo bom vento fresco do mar alto, os lampeiros vão sempre ganhar».
A “questão” é que, para mim, Pacheco Pereira é um dos átomos [mas também admito, dada a “diversidade”, a possibilidade da sua estrutura molecular] que perfaz a «mole dos lampeiros»… a começar pelo vício tão vezo quanto filho-da-puta de pleitear(em) por meter(em) as patas na esterqueira e simultaneamente armar(em) em «grilo(s) falante(s)».
Qual é para a sociedade o «valor acrescentado» quer das munificentes darandinas pachequianas quer dos pereiricos pigarreios televisivos, semanais? Nenhum.
Mas de que autoridade se arroga Pacheco Pereira para do alto das tamanquinhas feitas de pau carunchoso, e estabelecido na sua «zona de conforto» por méritos, duvidosos, vir (generalizando – embora saiba, e disso dá conta e repudia quando é feita pelos outros) correr imensa gente que presenteia mais a sociedade dando uma mal-cheirosa bufa do que presentearão o(s) Pachecos Pereira(s) uma vida inteira mergulhados em resmas de obras e tratados alheios e a banhos com sais de pétalas de rosa?
Mas de que autoridade se arroga Pacheco Pereira para do alto das tamanquinhas armar em “pastor” se, factualmente, não é senão um dos mais activos, ubérrimos e reconhecidos perpetradores do «estado a que isto chegou»?

Quem se julga?!

João Lisboa said...

Ena!... "peristilos", "facúndia", "pleitear", "darandinas"... isto é "ir muito além do Pacheco"!... sissenhor!

Os "banhos com sais de pétalas de rosa" é que destoam um bocadinho... mas ninguém é perfeito.

Anonymous said...

O Pacheco Pereira é, neste e noutros textos e nas suas intervenções na Quadratura do Círculo, certeiro na forma e no fundo. Quer isto dizer que, julgo eu, a crítica que faz à maioria de direita e à política europeia é no essencial acertada e lúcida. Mas, Pacheco Pereira depositava infundamentadas esperanças na liderança de António Costa, bem como alimenta um desejo messiânico de ver Rui Rio ascender à liderança do PSD. Há um bug na lucidez analítica de PP que corresponde ao momento em que ele apoquentado pelo diagnóstico que é capaz de realizar se sente obrigado a perguntar-se a si mesmo: Que fazer? Despojado já dos ardores revolucionários de outrora a opção que lhe resta é .... fulanizar.
Este texto mostra bem que PP faz um esforço para não perceber o que se está a passar. O melhor que ele tem para propor ao PS é " (...) preciso mandar pela borda fora os consultores de imagem e de marketing, os assessores, os conselheiros, a corte pomposa dos fiéis e deixar entrar uma lufada de ar fresco de indignação.". Mas, como podem o ar fesco e a indignação entrar neste aprazível e rotineiro lugar em que o PS se encontra, esse lugar de conforto em que desfruta da posição que lhe está atribuída no "regime das actuais relações de poder e da sua (re)produção".
PP não quer perceber que a proposta politica do PS no essencial mantêm o quadro actual austeritário, conferindo-lhe pequenas modelações. Pela "responsabilidade" que o caracteriza, pelo facto de o PS ser um partido "responsável", por ser um partido "pró-europeu", blá,blá,blá. O PS tem um projecto: governar Portugal no quadro da relação de poderes ditado pelos países mais poderosos, aceitando as regras desse jogo. Já o fez, no consulado de Sócrates, quer voltar a fazê-lo. Para isso apostava tudo na retórica anti-austeritária e em medidas mínimas que no essencial preservam a austeridade e mantêm as suas consequências mais injustas socialmente. Talvez desta vez não seja suficiente por mais ar fresco que PP lhes recomende.