NÓSTOS + ÁLGOS
Por muito que a “marca Portugal” (inserir aqui um discreto “lol”) desejasse deter o "copyright" mundial sobre a palavra e o conceito de “saudade”, a verdade é que foi o médico suíço, Johannes Hofer, quem, em 1688, a partir dos termos gregos nóstos e álgos, literalmente inventou a “nostalgia”, ou "mal de Suisse", quadro clínico afim da melancolia, que afectava os soldados em campanha, longe da terra mãe. Se este padecimento, originalmente, se definia por um afastamento territorial, não foi preciso muito para que passasse a incluir também o "longing" ou "yearning" (duas óptimas traduções para a “intraduzível” saudade que, curiosamente, em gaélico irlandês, se diz “fadó”), esse anseio por tempos idos, real ou imaginariamente, “de ouro”. Isto é, a matriz para todas os futuros ímpetos nostálgicos e retro que conduziriam Simon Reynolds, a declarar, trezentos e alguns anos depois, que “the avant garde is now an arrière garde”.
Alvo de uma crítica decididamente afirmativa foi, em Maio de 71, a loja de moda "vintage" londrina, “Biba”, atacada à bomba pelos anarquistas da Angry Brigade que, parafraseando Dylan, proclamavam: “If you’re not busy being born, you’re busy buying”. E acrescentavam: “Na moda, como em todo o resto, o capitalismo apenas pode andar para trás, não tem para onde ir, está morto. O futuro é nosso”. Não podiam estar mais errados. Se, no século XXI, as provas da sua esmagadora derrota abundam, na pop, pode considerar-se humilhante: o império-retro é avassalador e o recente Classics, de She & Him, outra lança em território inimigo. She é Zooey Deschanel – assim baptizada em homenagem a Zooey Glass, personagem de Salinger, “nascida” 45 anos antes dela –, a eterna Manic Pixie Dream Girl americana, e Him é M. Ward, criatura de credenciais indie, desde 2006, via S&H, convertido a uma minuciosa operação de reciclagem das preciosas antiguidades detectáveis no perímetro Motown/Spector/Tin Pan Alley/Nashville. Desta vez, o empreendimento não recorre à cosmética fake ao jeito-Lana Del Rey: Deschanel e Ward atiram-se de frente a treze temas dos anos 30 a 70 popularizados por Johnny Mathis, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Aznavour ou Frank Sinatra (vendo bem, se Dylan pode, porque não eles?) e o resultado é, deveras, "cute". Os avós vão adorar.
1 comment:
Em português diz-se Sehnsucht e não Saudade. bfds
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