17 September 2014

PROTO-ROBOFOLK 


2009, Checkmate Savage. 2010, The Wants. Longa pausa de quatro anos e Strange Friend. Se tudo correr muito mal (ou muito bem, conforme a perspectiva), a Phantom Band está destinada a ser um daqueles grupos que publicarão mais um álbum ou dois – se o fizerem –, extinguem-se perante a quase total indiferença planetária, e, daqui a uma dúzia de anos, serão redescobertos em póstuma glória. Não direi que hão-de replicar o lendário efeito-Velvet Underground (poucos os ouviram, porém, cada um desses formou uma banda) mas a profecia não é, sequer, particularmente arriscada: sem ser especialmente hermética ou exigir qualquer tipo de "difficult listening", a sua música, um pouco como também acontece com os Midlake, de Antiphon, ou os British Sea Power, de The Machineries Of Joy (ambos de 2013), nem se compraz na actividade de preguiçosa fotocopiadora daquilo que os antecedeu, nem se dá bem na cultura contemporânea do "short attention span".



Pior, uma coisa reforça a outra – porque não imediatamente reconhecível e enquadrável, a persistência de escuta necessária para lhe decifrar os encantos, só por um improvável golpe de sorte (exemplo: o jackpot que saiu à Handsome Family com a inclusão de "Far From Any Road" no genérico da série de TV "True Detective”) lhes estenderá à frente, no curto prazo, alguma passadeira vermelha. “Proto-robofolk” chama-lhe Rick Anthony, cantor, guitarrista e compositor do grupo, que, igualmente, conta como um tio a descreve: “música para cartoons checoslovacos”. Se os (indiscutíveis) genes folk lhe terão sido implantados por via materna (Gaye Anthony, "singer-songwriter" de Aberdeenshire, na Escócia – “vende mais discos do que nós”, resmunga Rick), todo o resto se deve aos contributos dos teclados muito kraut-vintage de Andy Wake, à guitarra de Duncan-“o-melhor-guitarrista-de-heavy-metal-que-nunca-tocou-heavy-metal”-Marquiss, simultaneamente realizador de vídeo e artista plástico, e à implacável propulsão rítmica de Iain Stewart. Quem pretendeu encontrar-lhes o lugar geométrico no ponto de intersecção entre Beatles, Pink Floyd inicial e Can, falhou como só poderia falhar. A paleta é demasiado rica de tonalidades e o modus operandi – lançá-las todas sobre uma tela em movimento vertiginoso – excessivamente volátil para que a captura pudesse ser tão fácil.

2 comments:

alexandra g. said...

Não ouvi nada mas, raios, que bom que é isto de poder ler-te:

"A paleta é demasiado rica de tonalidades e o modus operandi – lançá-las todas sobre uma tela em movimento vertiginoso – excessivamente volátil para que a captura pudesse ser tão fácil. "


p.s. - podes sempre vingar-te chamando-me melómana em itálico :)

João Lisboa said...

"melómana em itálico"

Um dia destes, acho que vou ter de usar essa...