ONZE HORAS
25 de Dezembro é, sem dúvida, uma data importante. É nesse dia que se comemora o nascimento de Isaac Newton (1642), Humphrey Bogart (1899) e – caso ainda não se tivesse reparado –, informam-nos as cinco melhores páginas do número de Agosto da “Uncut”, também Shane MacGowan (1957). Não é o único nem sequer o mais importante dado que se pode retirar da entrevista do ex-Pogue com Nick Hasted que se iniciou à meia noite, no pub Boogaloo, do Norte de Londres, e terminou por volta das 11 da manhã seguinte quando MacGowan concluiu a sua dissertação acerca de "life, the universe & everything" e colapsou sobre um sofá. Sim, porque o tipo que, em 1989, confessava “Nunca escrevo quando estou sóbrio, nem saberia por onde começar. A razão por que continuo a beber é que detesto ressacas. Sou um exemplo lixado, muito mau mesmo. Mas também diria que os nossos fãs não precisam de maus exemplos. São perfeitamente capazes, por si mesmos, de serem verdadeiras bestas degeneradas, Deus os abençoe...”, agora, ameaça frequentar um ginásio, distribui generosamente conselhos sobre “beber responsavelmente”, pratica remo e (por muito que as circunstâncias da entrevista o contradigam), asseguram os actuais companheiros de The Aftermath com quem gravará ou não um novo álbum, “em estúdio, é só chazinho”.
Shane MacGowan, Sharon Shannon - "Rainy Night in Soho"
A restante dieta parece reunir um sortido rico de MC5, The Chieftains, Roxy Music, Nick Cave, Sex Pistols, Beatles, Van Morrison, o tenor irlandês Frank Patterson e filmes de Scorsese, Leone e Woody Allen. Mas o que, verdadeiramente, sobressai do longuíssimo périplo pelo passado de um fulano que recebeu a sua primeira garrafa de whiskey aos 6 anos, cuja mãe, pela mesma altura, o fazia ler Thomas Hardy, Dickens e Edna O’Brien e o pai lhe metia James Joyce nas mãos, ele que, hoje, jura por Brendan Behan, Yeats e Seamus Heaney e que, com a tia Nora, rezava fervorosas novenas “to get the Brits out”, é o meio alívio/meio remorso por, durante o Verão-punk de 1976 (“Os Sex Pistols surgiram, o IRA fazia explodir tudo o que mexia, era um mundo maravilhoso: drogas, sexo e violência!”), terem sido os Pogues a contribuir para que ele não se tivesse convertido em guerrilheiro nacionalista irlandês: “Sempre me senti culpado por não ter arriscado a vida pela Irlanda. Tenho vergonha de nunca ter tido coragem suficiente para me juntar ao IRA. Os Pogues foram a minha forma de ultrapassar essa culpa”.
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