ESPECTROS
Vinte anos, dez álbuns, quatro romances e, à excepção daquele escasso punhado de gente que fez o necessário para ter acesso à "password" (leia-se: realizou um pequeno esforço de investigação), Willy Vlautin continua a ser um total desconhecido. As palavras Richmond Fontaine também fazem tocar pouquíssimas campainhas e associar um nome ao outro não melhora extraordinariamente a situação. Introduzir ainda na equação o factor The Delines, provavelmente só irá piorar as coisas. Mas não deveria. Porque aquele universo de personagens, histórias e canções que “começam a beber logo pela manhã mas, mesmo assim, conseguem cambalear até ao emprego”, viajantes frequentes na discografia dos Richmond Fontaine, terá, talvez, encontrado os seus intérpretes ideais neste novo heterónimo colectivo de Willy Vlautin – com Jenny Conlee (dos Decemberists), Amy Boone (Damnations), Sean Oldham (repescado dos Richmond) e Tucker Jackson (Minus 5) – e em Colfax, álbum de acolhimento para dez planos fixos de espectros assinados por Vlautin e um outro, a assombrada "Sandman’s Coming" (“It's a great big dirty world, if they say it ain't, they're lyin' sandman's coming soon, you know he's coming soon”), de Randy Newman.
"The longest, wickedest street in America", foi como, uma vez, a “Playboy” caracterizou a Colfax Avenue, em Denver, no Colorado. A mesma que Sal Paradise/Jack Kerouac mitificou em On The Road e que, mais prosaicamente, há oito anos, o “Denver Post” apresentava enquanto “anfitriã de um papa [Karol Wojtyla, em 1993] e local de trabalho de prostitutas”. Irmã-gémea do Fitzgerald and Casino Hotel, espelunca a 28 dólares por noite, de Reno, no Nevada, cenário de The Fitzgerald (2005) ou de qualquer um dos desolados panos de fundo das páginas de The Motel Life (2006), Northline (2008), Lean on Pete (2010) e The Free (2014). Vlautin reivindica-se de Steinbeck, Carver, Tom Waits e Shane MacGowan mas, desta vez, foi Amy Boone a atear o fogo: “Passei um ano inteiro a escrever canções, pensando na voz dela: metade destroçada, metade lindíssima, uma imensa fadiga interior”. Das cinzas, varridas pela insinuação dos "glissandi" da "steel guitar", de Jackson, e o pontilhismo do Fender Rhodes, de Conlee, ergue-se algo, magnífico, como uns Mazzy Star com muito menos láudano e bastante mais bourbon.
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