BURROUGHS
Steely Dan. Nova Mob. Thin White Rope. “Interzone”. The Soft Machine. Matching
Mole. Heavy Metal. 23 Skidoo. The Soft Boys. Bandas, géneros, canções, nomeados a
partir de textos de William Burroughs. Tzara e os dadaístas já tinham criado poemas a
partir de palavras retiradas, ao acaso, de um chapéu. Os surrealistas celebraram os
“encontros fortuitos” e os “cadavres exquis” e Jean Cocteau encomendava, a George
Auric, música para sequências específicas dos seus filmes e, depois, distribuía-a,
aleatoriamente, jogando com aquilo a que chamava “sincronia acidental”. Mas foi no nº
9 da Rue Gît-le-Coeur, em Paris, o decrépito “Beat Hotel” onde, entre 1957 e 1963,
pararam também Gregory Corso e Allen Ginsberg, que Brion Gysin e Burroughs, por
descuido – ao cortar folhas de papel de desenho, Gysin fatiou também algumas páginas
de jornal cujos recortes recompôs ignorando os originais –, tropeçaram no "cut-up" (e, a
seguir, no "fold-in", no "inching", no "drop-in"), menos técnicas literárias do que telescópios
mentais ("When you cut into the present the future leaks out") e estratégia de guerrilha
contracultural, dedicada, "à la" Rimbaud, tanto a desregular os sentidos como a sabotar as
“máquinas de controlo” (“Smash the control images. Smash the control machine”).
A
cultura pop, ávida de infracção e experimentalismo, acolheu de braços abertos o "upper
class junkie", de fato completo, gravata e chapéu, homossexual, literato, homicida por
acidente, autor de Naked Lunch e The Nova Trilogy, proto-inventor do "sampling":
Debbie Harry, Patti Smith, Joe Strummer, Lou Reed, foram ao beija mão, em Nova
Iorque, nos anos da "no wave"; Tom Waits co-escreveu com ele a ópera The Black
Rider; Hal Willner, em Dead City Radio, convocou John Cale, Sonic Youth, Donald
Fagen e outros para lhe encenarem os textos; R.E.M, Cobain, Laurie Anderson,
Disposable Heroes of Hiphoprisy gravaram com ele; Bowie, em "Sweet Thing", de Diamond Dogs,
recorreu ao "cut-up" e, Paul McCartney fez questão que Burroughs figurasse na capa de Sgt. Pepper, inclinando a cabeça sobre Marylin. Morto em 1997, completaria, em
2014, 100 anos. Em Burroughs100, está o calendário completo das
comemorações internacionais. Em 2012, foi a vez do centenário de John Cage.
Celebramos, como é justo, os génios do século XX. Mas convinha irmos também
começando a detectar os do século XXI.
No comments:
Post a Comment