23 April 2014

BURROUGHS 


Steely Dan. Nova Mob. Thin White Rope. “Interzone”. The Soft Machine. Matching Mole. Heavy Metal. 23 Skidoo. The Soft Boys. Bandas, géneros, canções, nomeados a partir de textos de William Burroughs. Tzara e os dadaístas já tinham criado poemas a partir de palavras retiradas, ao acaso, de um chapéu. Os surrealistas celebraram os “encontros fortuitos” e os “cadavres exquis” e Jean Cocteau encomendava, a George Auric, música para sequências específicas dos seus filmes e, depois, distribuía-a, aleatoriamente, jogando com aquilo a que chamava “sincronia acidental”. Mas foi no nº 9 da Rue Gît-le-Coeur, em Paris, o decrépito “Beat Hotel” onde, entre 1957 e 1963, pararam também Gregory Corso e Allen Ginsberg, que Brion Gysin e Burroughs, por descuido – ao cortar folhas de papel de desenho, Gysin fatiou também algumas páginas de jornal cujos recortes recompôs ignorando os originais –, tropeçaram no "cut-up" (e, a seguir, no "fold-in", no "inching", no "drop-in"), menos técnicas literárias do que telescópios mentais ("When you cut into the present the future leaks out") e estratégia de guerrilha contracultural, dedicada, "à la" Rimbaud, tanto a desregular os sentidos como a sabotar as “máquinas de controlo” (“Smash the control images. Smash the control machine”). 


A cultura pop, ávida de infracção e experimentalismo, acolheu de braços abertos o "upper class junkie", de fato completo, gravata e chapéu, homossexual, literato, homicida por acidente, autor de Naked Lunch e The Nova Trilogy, proto-inventor do "sampling": Debbie Harry, Patti Smith, Joe Strummer, Lou Reed, foram ao beija mão, em Nova Iorque, nos anos da "no wave"; Tom Waits co-escreveu com ele a ópera The Black Rider; Hal Willner, em Dead City Radio, convocou John Cale, Sonic Youth, Donald Fagen e outros para lhe encenarem os textos; R.E.M, Cobain, Laurie Anderson, Disposable Heroes of Hiphoprisy gravaram com ele; Bowie, em "Sweet Thing", de Diamond Dogs, recorreu ao "cut-up" e, Paul McCartney fez questão que Burroughs figurasse na capa de Sgt. Pepper, inclinando a cabeça sobre Marylin. Morto em 1997, completaria, em 2014, 100 anos. Em Burroughs100, está o calendário completo das comemorações internacionais. Em 2012, foi a vez do centenário de John Cage. Celebramos, como é justo, os génios do século XX. Mas convinha irmos também começando a detectar os do século XXI.

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