Noite de Óscares. Maratona televisiva-industrial particularmente a evitar, sobretudo, quando, numa rápida operação estatística, me dou conta que, dos últimos 20 e tal anos, apenas 4 filmes vencedores – O Silêncio dos Inocentes (1991), Imperdoável (1992), Million Dollar Baby (2004) e Este País Não É Para Velhos (2007) – me apeteceria rever e a imensa maioria dos restantes nomeados nem sequer me despertou o apetite (não é snobismo, é mesmo desinteresse). Óptimo pretexto, então, para, dando um passo ao lado, resolver um mistério que, desde o ano passado, me intrigava: é verdade que transformar um dos grandes prazeres da vida – filmes de piratas – num aborrecimento fatal não é coisa fácil mas Gore Verbinsky, com a indispensável ajuda de Johnny Depp, na série Piratas das Caraíbas, havia concretizado a proeza (embora os álbuns que, colateralmente, inspirara – Rogue’s Gallery (2006) e Son Of Rogues Gallery (2013) – não fossem nada de deitar fora); no entanto, como, unanimemente, me garantiam, seria possível terem ido ainda mais longe e condenado ao mesmo triste destino o lendário Lone Ranger/Mascarilha?
Extraído das gravações a criar bolor na "box", uma hora e tal depois do início, tinha poucas dúvidas: o par Verbinsky/Depp, se deixado em liberdade, não só é capaz de mumificar toda a história do cinema como, no Lone Ranger, o faz sob a forma de uma gigantesca lasanha de citações do passado. Por um instante, contudo, apesar das esmagadoras provas, imaginei que alucinava, vítima de excesso de informação. Sequências integrais, "copy-pastes" audiovisuais de Leone, Morricone, Peckinpah, John Ford, Walter Hill... teriam eles tido tal descaro? Recorri ao melhor-amigo-Google e não, não era só eu. No “Guardian”, por exemplo, John Patterson escrevia: “O Mascarilha está tão pesadamente atafulhado com os escalpes sangrentos dos velhos "western spaghetti" e dos de Hollywood que, a partir da meia hora, comecei a pensar que não estava realmente a ver um western mas um filme de Frankenstein. Há homenagens, há piscadelas de olho, há furtos criativos e, depois, há isto: construir deliberadamente um filme de género inteiro a partir de sequências saqueadas aos clássicos desse género”. Mas o Google tinha mais um presentinho para me oferecer: na véspera, os Razzies (os “Óscares” para os piores do ano) haviam distinguido The Lone Ranger na categoria de “pior prequela, remake ou plágio”. Vou passar a ver os Razzies.
3 comments:
Estás cansado da invenção, vais passar a ver razzies.
Estás naturalmente esgotado.
Não me tinha chamado a atenção o Lone Ranger,fiquei com curiosidade de ver, quando o mundo da crítica diz mal, de certeza que é bom, e ainda por cima é do Verbinsky.
Assimeméquié!
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