06 December 2013

TAMBÉM VÓS?
(sequência daqui


Basta o nome: Banda do Casaco. Qualquer espírito medianamente perspicaz se aperceberia que, de um grupo assim baptizado sob as febris temperaturas lusas da segunda metade dos anos 70 do século passado, dificilmente sairia algo conforme à estética “revolucionária” oficial da época. Porque o que, à sombra desse chapéu de sol – que, mais do que um colectivo fixo, designava uma ideia –, borbulhava nos tubos de ensaio de Nuno Rodrigues e António Pinho era uma gloriosa mixórdia de surrealismo popular e erudito, de passagens pedonais e aéreas entre a música tradicional portuguesa e as suas irmãs europeias, de túneis secretos a ligarem o jazz a amáveis experimentalismos vários e a enigmáticos organismos sonoros ainda por identificar (uns e outros, então, ignoravam-no mas terá sido por aqui que o Hugo se tornou Largo e Cocteau travou conhecimento com os Twins), de olhares de esguelha sobre os rumos sempre inquietantes que dez milhões de bípedes, século atrás de século, insistem em escolher.



Não eram indispensáveis poderes de vidência para compreender que tal programa – ou sucessão de 7 programas, invariavelmente distintos entre si – não estava fadado para conhecer a aprovação das massas. Mas, agora que podemos usufruir do luxo de retirar de duas bonitas caixas vermelha e negra e negra e vermelha (belíssima escolha cromática de suave ressonância anarca), um a um, Dos Benefícios Dum Vendido No Reino dos Bonifácios (1975), Coisas Do Arco Da Velha (1976), Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos (1977), Contos Da Barbearia (1978), No Jardim Da Celeste (1980), Também Eu (1982) e Com Ti Chitas (1984), acrescidos de um CD de registos da pré-história da BdC e DVD ilustrativo, quem sabe se não será desta que mais alguns indígenas surpreendidos se darão conta do que andaram a perder nos últimos 40 anos.

1 comment:

césar said...

a melhor banda portuguesa de sempre.