No número da “New Yorker” do Dia da Mãe (11 de Maio passado, nos EUA), podia ler-se uma entrevista com Najmieh Batmanglij, média celebridade da culinária no nicho da gastronomia iraniana e autora de diversos livros como o celebrado Food of Life: Ancient Persian and Modern Iranian Cooking and Ceremonies. A história pessoal de Najmieh seria, só por si, suficientemente interessante – uma quase remake da que Marjane Satrapi contou no livro e filme Persepolis, de fuga à Revolução Islâmica dos ayatollahs e recomeço no Ocidente – mas o objectivo da entrevista era outro: desafiá-la a explicar o que havia corrido tão bem na educação dos seus dois filhos, um, Zal, promissor cineasta (com o segundo filme, produzido por Ridley Scott, à beira de estrear), e o outro, Rostam, compositor e multi-instrumentalista daquela banda – os Vampire Weekend – que, quando se formou, em 2006, na Ivy Leaguer Universidade de Columbia, realizou uma espécie de juramento de sangue, segundo o qual, nunca seriam vistos em público de jeans e t-shirt.
Não há-de ser inteiramente um acaso que, dois dos discos (os dois discos?) mais aguardados deste ano (Modern Vampires Of The City, dos VW, e Trouble Will Find Me, de The National) provenham de grupos de licenciados (música, literatura, artes gráficas) de classe média ou média-alta, socialmente integrados, e cujas mães, conta Najmieh, ainda hoje se reúnem para tomar um chazinho e celebrar o sucesso dos rebentos. Ou, no caso dos National, pais de família responsáveis, dados à boa leitura, às músicas clássica e contemporâna, e preocupados (como diz Matt Berninger à “Uncut”) “com as ansiedades e imperfeições humanas”. Não façamos disto, apressadamente, uma regra mas, actualmente, os rebeldes sem causa (ou supondo ter uma), parecem optar mais rapidamente por fazer explodir bombas em eventos públicos ou – de Columbine a Sandy Hook – descarregar uma arma sobre inocentes, do que montar uma banda de rock.
Bob Dylan poderá gabar-se de, aos 72 anos, ainda ser controverso (mas só na decrépita França onde cavalheiros sisudos e fachos como Marine Le Pen discutem se é legítimo atribuir a Legião de Honra a um tipo que se opôs à guerra do Vietname e deu umas passas canabinóides quando era miúdo) mas os tempos mudaram muito mais do que ele imaginava. O que tem, igualmente, consequências estéticas: se o rock/progressivo/sinfónico dos anos 70 era uma manifestação do desejo de mobilidade social ascendente do proletariado musical, ávido de demonstrar que era capaz de tratar por tu os clássicos e/ou o jazz (o equivalente sonoro da maison de emigrante), os actuais académicos pop incorporaram naturalmente a erudição e apenas fazem parcimonioso uso dela quando tal tempero é necessário e pertinente. Discretos, quase subliminares, os exemplos são notórios em Modern Vampires Of The City (bem como, assegura Najmieh, suaves aromas de música persa) e Trouble Will Find Me. Já agora, é capaz de ser complementarmente útil saber que outro dos álbuns que marcarão 2013, Once I Was An Eagle, é assinado por Lady Laura Beatrice, baronesa de Marling.
4 comments:
É impressão minha ou o camerado melhora de dia para dia?
:)
João, estou fartinha dos comentários no meu blog. Faça-nos (a todos) uma salada de frutas, please *
Os textos são sempre bons. Ainda assim faltam-me as recensões críticas convencionais. Acresce que o Ricardo Saló…foi dispensado do Expresso. Estamos mal de critica.
Vamos indo que anda por aqui http://embuscadoacordeperdido.blogspot.pt/ apesar ser de um forma intermitente.
"Ainda assim faltam-me as recensões críticas convencionais"
Honestamente: a mim, não me fazem falta nenhuma.
"Acresce que o Ricardo Saló…foi dispensado do Expresso"
Isso, sim, faz falta.
"anda por aqui"
Já linkado.
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