Andrew Bird - Hands Of Glory
Andrew Bird confessa sem hesitar que uma das suas actividades favoritas é estabelecer regras para si mesmo, quebrá-las, e, porque sim, voltar a aceitá-las. Porque sim, mas igualmente porque “são necessárias até para, quando isso for importante, ir contra elas”, e porque “o peso das expectativas e das inúmeras possibilidades” de que dispõe o obrigam a impor-se uma espécie de código de conduta estética que discipline minimamente o que, de outra forma, esbarraria contra o inevitável problema dos sobredotados: dispersar-se infinitamente por mil áreas e, embora falhando gloriosamente, não chegar ao fundo de nenhuma. Uma delas era “se não conseguir reproduzi-lo em palco, não vale a pena grava-lo em estúdio”. Claro que, entretanto, também já a violou e, naturalmente, regressou, agora, a ela com este Hands Of Glory (mini álbum ou EP encorpado – como se preferir – de oito temas), adenda ao excelentíssimo Break It Yourself e coisa doméstica gravada no (a caminho de lendário) celeiro do Illinois, à beira do Mississipi, à volta de um único microfone.
O minimalismo tecnológico combina bem com a selecção do reportório, uma espécie de demonstração descontraída de como não existe qualquer incompatibilidade entre o estatuto de instrumentista e "songwriter" virtuoso, barroco e adepto da frase que exige ser reescutada e recorrer ao dicionário (caso este possa servir de apoio...) e o do fulano que, com dois ou três cúmplices, se entretém a interpretar canções de Ramblin’ Jack Elliott, Townes Van Zandt, The Handsome Family e dos Alpha Consumer (seita de Minneapolis onde exerce o companheiro de estrada, Jeremy Ylvisaker, quando não alinha com o fidelíssimo Martin Dosh em The Cloak Ox – todos aqui presentes) ou a virar do avesso uma ou duas das suas. Como ele diz, “sinto que já provei tudo o que pretendia provar e posso fazer o que me apetecer”. Continue, sff.
No comments:
Post a Comment