Aproveitando para promover o livrito e recorrendo à sua "experiência jacobina" ("garanto-vos que sei do que falo, porque já pensei assim"), JMF vê a luz e jura que "o que realmente pensam muitas dessas almas, mas nunca confessam, é que a caridade – ou o Banco Alimentar contra a Fome – contribuiu para aliviar o sofrimento dos pobres e isso torna menos provável a sua revolta, ou seja, torna mais longínqua a revolução libertadora com que sonham".
Quais as "almas" e o número exacto delas (ele garante que são "muitas"), desconhece-se. Mas já é bastante fácil saber-se que o que diz, realmente, la Jonet é que "vamos ter de empobrecer muito" porque "vivíamos muito acima das nossas possibilidades".
Ignorando, por agora, a absoluta urgência de esquartejar a próxima aventesma que conjugar a forma verbal "viver acima das possibilidades" na primeira pessoa do plural, é útil reparar que do que se trata é de "toda uma concepção de vida" que assenta em escolhas simples:
- lavar os dentes com um copo de água ou com a torneira a correr;
- ir ao concerto de rock ou tirar uma radiografia (mas, atenção!... uma radiografia "quando caímos numa aula de ginástica"), a menos que os pais passem a comer Nestum para os petizes irem ao rock;
- não comer bifes todos os dias ("não podemos!").
Anexo: deus é grande, cá "ainda não temos miséria como na Grécia" e, vendo bem, em comparação com a Somália, parecemos Rockfellers.
Verdadeiramente importante é "voltar aquilo que é o mais básico" (os Neanderthal até tinham uma vidinha catita, em comunhão com a natureza, e tal). Até porque a "necessidade de consumo que conduz à satisfação das pessoas não é real".
JMF, já não pensarás como pensavas (ainda bem) mas continuas a não entender que a razão por que uma tão doce cristã perturba algumas mentes a quem nem sequer ocorre sonhar com "revoluções", é apenas a puríssima obscenidade de supor que "empobrecer" é aquilo. Mesmo dando de barato que "bom cristão" não é um oxímoro, um "bom cristão" ajuda quem necessita de ajuda e... CALA-SE! Sobretudo, se, quando abre a boca, não consegue fazer melhor do que uma imitação de Lili Caneças com crucifixo ao fundo.
* título tomado de empréstimo daqui
* título tomado de empréstimo daqui
4 comments:
"só as pessoas superficiais não julgam pelas aparências"
Não percebo qual a surpresa das pessoas. A Tia Jonet já vem dizendo isto há alguns anos. Aliás, no essencial, não é diferente do que tem dito o Medina Carreira (e os seus mimetizadores). Claro, no meio de críticas ao Sócrates (e ao Passos Coelho, no caso do Medina Carreira) não se dá importância mas a ideia central é este discurso moralista. Enfim gente perigosa...
Nuno Gonçalves
O futuro é a caridade, vem aí o Banco do Medicamento, mas depois virá o Banco das Jeans, dos Sapatos, dos Computadores, dos Tupperwares...
"Aliás, no essencial, não é diferente do que tem dito o Medina Carreira"
Nunca ouvi o MC dizer que "empobrecimento" é isto. "Isto" chama-se perda do poder de compra. Empobrecimento é outra coisa. Muito pior.
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