08 July 2012

SEM FÔLEGO



Fiona Apple - The Idler Wheel... 
  


Regina Spektor - What We Saw From The Cheap Seats

“Today we’re younger than we’re ever going to be” é, possivelmente, a forma que Regina Spektor encontrou para dizer “hoje é o primeiro dia do resto da tua vida”. Fiona Apple, que escreve e canta como se todos os dias fossem o último da vida dela, prefere assinalar a efeméride com frases como “You didn’t see my valentine, I sent it via pantomime, while you were watching someone else, I stared at you and cut myself”. Por outras palavras, se nem uma nem outra pertencem ao clube dos praticantes da pop como dispensador de felicidade instantânea, poderão, contudo, deixar-se objectos cortantes próximo de Regina sem perigo de maior mas, à cautela, já não deverá afirmar-se outro tanto acerca de Fiona. A aproximá-las e (também) a separá-las o facto de ambas serem "singer-songwriters" que têm no piano a sua ferramenta sonora de primeira escolha e a circunstância de o produtor do álbum de Spektor – Mike Elizondo – ter sido, justamente, aquele que, em 2005, foi imposto pela editora de Fiona Apple para reconfigurar a primeira versão (assinada por Jon Brion e pouco do agrado da entidade patronal) do anterior Extraordinary Machine, episódio que deu origem a uma insurreição de fãs interneticamente organizados e a duas encarnações diferentemente óptimas da mesma obra.

Sete anos depois, é o percussionista Charley Drayton quem ocupa o lugar vago de Brion/Elizondo na condução das operações de um álbum que, sem se aproximar sequer do estatuto de “o terceiro maior título de sempre” (esse pertence ao segundo de Fiona, When The Pawn... – acrescentem-lhe mais 87 palavras), dá pelo nome de The Idler Wheel Is Wiser Than the Driver Of the Screw And Whipping Cords Will Serve You More Than Ropes Will Ever Do. E que, previsivelmente, tem na dimensão rítmica (tanto acústica como construída a partir de "samples" de sonoridades “encontradas”) o eixo de estruturação e o motor das canções, como que uma máquina disciplinadora dos – nunca verdadeiramente submetidos – demónios que, não desistindo de bolçar enormidades como “I ran out of white doves’ feathers to soak up the hot piss that comes from your mouth every time you address me”, ocupam por inteiro o assombrado universo das canções de Fiona Apple.


What We Saw From The Cheap Seats não nos deixa sem fôlego exactamente do mesmo modo apenas porque o perfil das canções de Regina Spektor, sem abdicar de baralhar as regras ao nível microscópico, não foge excessivamente do cânone clássico. Mas, mais secamente austero ou polifonicamente quase barroco, o filme que Spektor nos convida a ver dos lugares da geral, de "Ballad Of A Politician" (“You love so deep, so tender, your people and your land, you love them till they can’t recall who they are again”), à fantasmagoria das salas de museu de "All The Rowboats" (“masterpieces serving maximum sentences, it’s their own fault for being timeless”) ou à literal sufocação operática de "Open" (“wires round my fingers, potentially lovely, perpetually human, suspended and open”), não é propriamente programa familiar para fim-de-semana à tarde.

2 comments:

Anonymous said...

Esta canção da Fiona Apple é um assombro mas é justo tb destacar o vídeoclip. É mto raro encontrar um dispositivo visual que promova tão bem uma música
Nuno Gonçalves

Anonymous said...

A Regina podia ter arranjado um videoclip mais engraçado :(
MAS, boa canção!

No entanto, a Fiona ganha em todas as frentes... por agora.