CLASSES "A" E "B"
Anna Ternheim - The
Night Visitor
Há uma dificuldade intrínseca e dificilmente
removível na missão de levar a sério uma "singer-songwriter"
sueca de tendência folk/country e a gravar em Nashville. Será, possivelmente,
apenas um preconceito idiota: na verdade, se a contribuição de origem
escandinava para a música popular tradicional norte-americana “branca” não foi
tão importante como a das ilhas britânicas, nem por isso deixou de existir. E,
vendo bem, não é menos legítima Anna Ternheim do que a legião de bandas
inglesas de blues do final dos anos 60. Até porque, do ponto de vista do
recrutamento dos parceiros de expedição de Anne pela América profunda, nada
existe de reprovável: Matt Sweeney (cúmplice de Cat Power, Bonnie "Prince"
Billy, Guided By Voices, Six Organs Of Admittance, Yo La Tengo) enquanto
produtor, o lendário Cowboy Jack Clement, Will Oldham...
Também não é pelo lado
da escolha de reportório – versões de temas alheios e originais – nem do
guarda-roupa musical (mui sóbrios arranjos acústicos de guitarras,
discretíssimas secções de cordas e vestigiais acordeão e bandolim) que o
edifício vacila. Porque, na verdade, nem vacila. Simplesmente, da sua exacta e
mais que perfeita bissectriz entre tradições americanas e o seu posterior
reflexo europeu (ver Sandy Denny, Nick Drake, Martin Carthy), traduzida em
amáveis aguarelas melódicas e macios afagos harmónicos, solta-se muito mais a
sensação de "coffee-table music" para
salões de classes A e B do que tudo aquilo que – com mais ou menos alegada
autenticidade, mais ou menos terra agarrada à voz e aos instrumentos – preferimos
escutar num disco que reinvindica o género de paternidade que The Night
Visitor escolheu para si. E é impossível afastar a suspeita de que, um
só passo para o lado errado, e Anna Ternheim chamar-se-ia Norah Jones.
No comments:
Post a Comment