ATÉ QUE O OUTONO REGRESSE
Beach House - Bloom
Os Beach House têm uma canção e tocam-na e
cantam-na muito bem. É, aliás, a mesma canção que já haviam repetido por dez
vezes em Teen Dream (2010) e que, em igual número de sucedâneos, voltam a
incluir no alinhamento de Bloom. Embora os 7 052 389 169 humanos que
constituem a população do planeta (descontando Alex Scally e Victoria Legrand,
o duo Beach House) no instante em que escrevo possam sentir uma natural
dificuldade em o confirmar, Victoria assegura que, desta vez, se trata de uma
obra sobre “o insubstituível poder da imaginação e a forma como ele se
relaciona com a intensa experiência da vida”. Poderá resultar de um insanável
défice no meu “insubstituível poder da imaginação” mas nunca seria devido às
suas propriedades decorrentes da “intensa experiência da vida” que me ocorreria
recomendá-lo como dieta sonora de Verão.
Na verdade, isso deve-se a motivos assaz
diferentes: é, justamente, naqueles dias e semanas em que as elevadas temperaturas
tendem a paralisar o funcionamento do cérebro, a reduzir o metabolismo até
valores pouco acima do coma e as “intensas experiências de vida” não são, de
todo, recomendáveis, que a música dos Beach House deverá ser considerada como
terapêutica de primeira linha. Esta infusão de "dream-pop" que destila, em diluição homeopática, meia molécula de
Mazzy Star e um pouco menos do que isso de Cocteau Twins (análises
laboratoriais mais rigorosas conseguirão detectar outros vestígios), esta
espécie de suave tinnitus benigno em
regime de beatitude pós-coital que recupera as qualidades opiáceas de Julee
Cruise/Badalamenti e as converte em papel de parede para moradia de férias à
beira-mar é tudo o que poderíamos desejar até que o amável Outono regresse.
2 comments:
Caro Johny Lisbon
não será um pouco velho, ou será acabado, para falar de exeriências de verão? O disco é bom, mas se o Johny diz bem, algo de mal resolvido terei... a corda joão, acorda...
Cafetra?...
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