The Walkmen - Heaven
Durante anos, Nick Cave – primeiro com os
Birthday Party, depois nos Bad Seeds – expeliu sobre o universo bílis e
abominações. Até que, de súbito, em 1990, The Good Son pareceu mostrá-lo como
criatura renascida e purificada dos demónios que, desde o início, o haviam
possuído e manobrado. Pareceu. Porque não é abusivo afirmar que se pode retirar
alguém do Inferno mas nunca se remove o Inferno do seu interior. E não tardou
que, periodicamente, as antigas atracções pelo abismo regressassem, com pico
absoluto no grand guignol de Murder
Ballads (1996). É que – e Leonard Cohen nunca fez outra coisa senão
demonstrá-lo –, mesmo sob uma aparência de serenidade, é sempre relativamente
fácil identificar o recanto onde germinam as flores do mal.
Heaven, dos Walkmen, é a terceira peça de um tríptico que, antes, passou por You & Me (2008) e Lisbon (2010), pontos de um itinerário entre um encontro, um porto de abrigo e, agora, a celebração de algo infinitamente maior. E, naturalmente, inatingível: não é impunemente que se afirma “Give me a life that needs correction, nobody loves perfection”. Se, por definição, “o paraíso” é um lugar de suprema perfeição, então, na verdade, aquilo de que Hamilton Leithauser e cúmplices nos falam é do velho purgatório que não chegaram, realmente, a abandonar mas que, hoje, até lhes parece estranhamente habitável. É, provavelmente, a isto que se chama “maturidade”. E só temos de nos alegrar por a dos Walkmen ainda não se ter deixado anestesiar em demasia: há instantes de talvez excessivo conforto e pastoralidade mas a besta demente e eléctrica que não expulsaram das entranhas e que lateja em "Heartbreaker", "The Witch" ou "The Love You Love" permanece viva. Nada está perdido.
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