Paul Buchanan - Mid Air
A imagem da capa dificilmente poderia
sonhar ser uma tradução visual mais fiel do que contém o primeiro álbum a solo
de Paul Buchanan: como se de uma das peças da série, de Robert Longo, Men In The Cities – figuras
masculinas (mais raramente, femininas), em postura de queda, desequilíbrio ou
contorção espasmódica, como a que surgia envolvendo The Ascension, de Glenn
Branca – se tratasse, mas uma em que, do modelo, apenas restasse,
vazia, a "business-suit". Mid Air é
exactamente isso: um lugar de perda e ausência onde, em 14 miniaturas e 36
minutos, é tão (ou mais) decisivo o que lá não está como o ínfimo que ali se
escuta.
Com os Blue Nile, quatro álbuns em vinte anos de carreira (A Walk Across The Rooftops, 1984, Hats, 1989, Peace At Last, 1996, High, 2004), essa ideia de rarefacção já lhes era consubstancial, mas, se tudo parecia existir, em estado de imponderabilidade, num universo paralelo onde Hopper e Chagall desenhavam o "storyboard" para um argumento de Raymond Carver ao qual Buchanan, Robert Bell e P. J. Moore ofereciam a banda-sonora, as sombras que o atravessavam ainda guardavam alguma materialidade. Agora, quase só voz e piano, num disco que esteve para se chamar “Minor Poets Of The 17th Century”, é como se ouvíssemos um Chet Baker que não projecta sombra, um Sinatra monossilábico, um Satie poeta que, em vez de composições em forma de pêra, distribuisse "fortune cookies" com frases como “far above the chimney tops, take me where the bus don’t stop”, “the buttons on your collar, the colour of your hair, I think I see you everywhere” ou “last out the newsroom, please put the lights out, there’s no-one left alive”. E ali nos deixamos ficar, imobilizados, fascinados pelos vivos que nunca iremos ver, encandeados pelas luzes definitivamente apagadas.
Com os Blue Nile, quatro álbuns em vinte anos de carreira (A Walk Across The Rooftops, 1984, Hats, 1989, Peace At Last, 1996, High, 2004), essa ideia de rarefacção já lhes era consubstancial, mas, se tudo parecia existir, em estado de imponderabilidade, num universo paralelo onde Hopper e Chagall desenhavam o "storyboard" para um argumento de Raymond Carver ao qual Buchanan, Robert Bell e P. J. Moore ofereciam a banda-sonora, as sombras que o atravessavam ainda guardavam alguma materialidade. Agora, quase só voz e piano, num disco que esteve para se chamar “Minor Poets Of The 17th Century”, é como se ouvíssemos um Chet Baker que não projecta sombra, um Sinatra monossilábico, um Satie poeta que, em vez de composições em forma de pêra, distribuisse "fortune cookies" com frases como “far above the chimney tops, take me where the bus don’t stop”, “the buttons on your collar, the colour of your hair, I think I see you everywhere” ou “last out the newsroom, please put the lights out, there’s no-one left alive”. E ali nos deixamos ficar, imobilizados, fascinados pelos vivos que nunca iremos ver, encandeados pelas luzes definitivamente apagadas.
3 comments:
Edward Hopper
aqui perto http://www.museothyssen.org/en/thyssen/ficha_artista/285
http://www.rte.ie/player/#v=1148959
Thanx (ambos)
Post a Comment