29 April 2012

FOOD FOR THOUGHT (VIII)



"Não sei quem são aquelas pessoas no parlamento, não votei nelas. Deixei de votar no PS, porque prometeram fazer a reforma eleitoral e não fizeram. De resto, o PSD também prometeu. E lá vêm aquelas listas cozinhadas pelo secretário-geral, com os nomes dos servos mais obedientes da corte partidária" 

"A evolução cultural leva tempo, é obra de duas ou três gerações. Falhámos a escola pública, que tem um papel fundamental, e isto afecta muito profundamente o país. Os meus filhos andavam numa escola pública, é através da escola pública que as gerações se podem tornar mais cultas, porque infelizmente os pais e avós não lhes podem dar o Verdi, não lhes podem explicar o que é a Traviata (...). Há uma responsabilidade política do Ministério da Educação. Sou relativamente crítica da ideia de que o Estado inunde a cultura de dinheiro. A excelência na arte é consagrada pela posteridade. Se o Estado der uma bolsa de estudo a um arquitecto para ser bom arquitecto, isto não funciona. O que tem de funcionar é a escola. Que tenham todos aulas de música, aulas de teatro, isto é uma mudança que compete ao Ministério da Educação" 

"O sistema de ensino deixou-se contagiar por uma ideologia pseudo-esquerdista que tentou fazer iguais todos os alunos, mas por baixo. A exigência não foi valorizada. Em 1974, a revolução apanhou-me a meio do doutoramento e pedi para ficar cá mais um ano, para poder participar. E estive a dar aulas, mas dois meses depois já não aguentava os alunos. Os estudantes diziam que não queriam notas, que eles é que faziam os curricula e que eu não mandava em ninguém. Respondi: 'Óptimo, vou-me embora'. E não é só culpa da esquerda, pois a direita está penetrada das mesmas utopias pseudo-igualitárias. Ministros como o Marçal Grilo ou o Roberto Carneiro, em vez de terem uma ideologia própria, reflectem este banho cultural que considera que aos alunos, coitadinhos, não se lhes pode dar más notas, pois ficam com auto-estima negativa. Devemos dar aos filhos dos pobres as mesmas oportunidades que aos filhos dos ricos e não baixar os níveis de exigência para que toda a gente passe, como durante anos aconteceu" 

"O PS não existe, nem sei o que é aquilo. O líder não tem carisma, não sabe o que há-de fazer, está condicionado pelo acordo com a troika. E sucede a um delinquente político chamado Sócrates, o pior exemplo que jamais, na História de Portugal, foi dado ao país: ir para Paris tirar um curso de “sciences po”, depois daquela malograda licenciatura – à qual não dou a menor importância, pois há muitos excelentes políticos que não são licenciados. O engenheiro Sócrates foi o pior que a política pode produzir. Depois de tantos processos em que mentiu, aldrabou, não depôs, ninguém percebeu o que se passou com o Freeport, os portugueses perguntam-se onde foi ele buscar dinheiro para estar em Paris. Quem é que lhe paga as despesas e o curso? A esquerda socialista tem ali este belo exemplar a viver no 16ème, e um sucessor que não inspira ninguém. O PCP vive num mundo antes da queda do Muro de Berlim, e o Bloco de Esquerda habita em Marte" (entrevista integral aqui)

10 comments:

zeromilhoes said...

Olá!
Adoro quando as pessoas falam sobre os «filhos dos pobres». E por que é que adoro? Porque sou filho de pobres. É verdade, ainda hoje tenho dificuldades em me comportar à mesa. Actualmente há muitas crianças a irem para a escola de estômago vazio. Com fome não há programa de Educação que resista. Os problemas da Educação, a meu ver, começam no ensino do ensino - especialmente no ensino básico. Quantos professores deviam voltar para a escola como alunos?

«O engenheiro Sócrates foi o pior que a política pode produzir.» Tenho dúvidas.

João Lisboa said...

"Adoro quando as pessoas falam sobre os «filhos dos pobres». E por que é que adoro? Porque sou filho de pobres"

Mas existe outra forma de nos referirmos aos... filhos dos pobres?

"Com fome não há programa de Educação que resista"

Evidentemente.

"Os problemas da Educação, a meu ver, começam no ensino do ensino - especialmente no ensino básico. Quantos professores deviam voltar para a escola como alunos?"

Demasiados. Já agora, espreite aqui: http://lishbuna.blogspot.pt/2008/11/uma-modesta-proposta-para-prevenir-que.html

"«O engenheiro Sócrates foi o pior que a política pode produzir.» Tenho dúvidas"

A competição pelo título é feroz, é verdade. Mas é um candidato fortíssimo ao título.

João Lisboa said...

Retirar um "título", sff.

Anonymous said...

"não lhes podem explicar o que é a Traviata"

Isto fez-me rir, nem sei bem porquê.

Anonymous said...

Já sei porquê: é um caso de humor involuntário.

João Lisboa said...

Não tenho especial amor pela Traviata - aliás, odeio ópera, do Mozart para a frente - mas o que a MFM quer dizer é claro. Acho.

zeromilhoes said...

"Mas existe outra forma de nos referirmos aos... filhos dos pobres?"
Se calhar não. As tretas da Igualdade etc são boas para a publicidade.

Sócrates chega ao topo da estrutura partidária do PS após um estágio na RTP1, patrocionada pelo Emídio Rangel, o sr. do share televisivo e dos sabonetes. Na altura era Sócrates e Santana Lopes a fazer concorrência ao prof. Marcelo na TVI. Sampaio em 2004 - nessa altura o país andava, e ainda anda, ocupada com a bola - dá o aval para a troca do Zé Manel «Cherne» pelo Pedro Santana Lopes. Ferro Rodrigues, líder do PS, demite-se aquando desta troca e Sócrates sobe (o zé povo já o conhecia da televisão). PSL não se aguenta no cargo de primeiro-ministro por todas as razões (os seus conhecimentos de protocolo não iam além da portaria das discotecas da 24 de Julho). A partir daqui o caminho estava aberto para a maioria absoluta do PS em 2005. Não esquecer que neste período decorria (no maior histerismo mediático de sempre) o caso mais infame da sociedade portuguesa: o caso Casa Pia. Sócrates consegue a maioria absoluta não por mérito próprio mas sim por demérito dos adversários (as famosas frases do Zé Manel que o país estava de tanga e que Guterres tinha abandonado o país etc ainda estavam bem vivas na memória do zé povo). O Zé Manel é convidado para a comissão da UE por causa da foto nas Lajes - ainda hoje estou convencido disso, e gostava que alguém me provasse o contrário.
Portanto, para concluir este comentário, anda aí muita gente a tentar fazer crer que foi com Sócrates que o país foi ao fundo e eu acho que não, que Sócrates só seguiu os passos dos seus antecessores governativos. São todos farinha do mesmo saco.
Agora vou ouvir pôr um CD a tocar. Vou começar pela canção nº 7 How Can Anybody Possibly Know How I Feel?
Cumps,

João Lisboa said...

"anda aí muita gente a tentar fazer crer que foi com Sócrates que o país foi ao fundo e eu acho que não, que Sócrates só seguiu os passos dos seus antecessores governativos. São todos farinha do mesmo saco"

Em rigor, a espiral descendente começou com os governos do Cavaco. No entanto, os últimos quinze anos - com excepção de 2 e picos - foram de governos PS (Guterres e Sócrates). O Guterres deu um potente pontapé de saída e o estudante de Sciences Pô fez uma esplendorosa segunda parte.

margarete said...

«Já tem dito que a incomoda sermos um povo subserviente. Como explica que continuemos assim, depois de tantos anos de democracia?

É preciso lembrarmos que o 25 de Abril foi um golpe de Estado, uma insurreição militar. Desde o século XIX até agora, em Portugal, os regimes foram sempre mudados por insurreições militares. Ora, a liberdade conquista-se. E nós nunca a conquistámos, foi sempre alguém que nos deu a liberdade. Em 1820 deram-nos o fim do antigo regime, vindo dos reis, com uma insurreição militar; em 1910, a República veio com uma insurreição militar; em 1926 foi uma insurreição militar que mudou o regime e abriu o caminho a Salazar; e em 1974 foi também uma revolta militar. Facto é que o povo não participou. E, ao não participar, torna-se um espectador alheado. Quando recebemos a liberdade dada e não temos de a conquistar, não a tratamos como nossa. A Constituição de 1822 diz: “O rei outorga.” “Outorga” significa “dá”. Foi sempre assim.»

João Lisboa said...

Yup.