28 August 2011

A ETIQUETA


















Kate & Anna McGarrigle - Tell My Sister

Paira sobre a folk uma espécie de aura de santidade que, desde sempre, tem muito a ver com um rosário de “bons valores” partilhados – com óptimas e péssimas razões – por um considerável número de almas no mundo inteiro: o regresso à “essencialidade” e à “pureza” mais ou menos rurais que, supostamente, as gigantescas metrópoles esqueceram e aniquilaram; a expressão verdadeiramente “autêntica” do espírito de povos e grupos sociais, esmagada pelos demónios do cosmopolitismo; e, em particular na música anglo-americana, a intervenção político-social que, desde o "folk-revival" dos anos 50/60 do século passado, na oposição à guerra do Vietname e através da participação nos movimentos dos direitos cívicos, lhe ofereceu a medalha de respeitabilidade que se conquista na luta pelas causas justas.

Significa isto que, independentemente da muita e excelente música (acústica e eléctrica) que, das diversas vagas folk, emergiu, foi sempre muito mais fácil dispor, à partida, de pontos-extra de credibilidade se a etiqueta folk viesse associada (de que o "hype" ainda recente do "free-folk" é esclarecedor exemplo). O que, como o caso das irmãs canadianas, Kate e Anna McGarrigle, demonstra, não é, necessariamente, sinónimo de sucesso comercial nem de relevância artística. Pequeno culto de alguns (posteriormente, algo reavivado pelo facto de Kate – falecida no ano passado – ser mãe de Rufus e Martha Wainwright) e com venerandos padrinhos e fãs da estirpe de Joe Boyd, Judy Collins, Nick Cave ou Lou Reed, a verdade é que a música das manas McGarrigle (de que, agora, se reeditam os dois primeiros álbuns - Kate & Anna McGarrigle, 1975, e Dancer With Bruised Knees, 1977 - acompanhados dos proverbiais bónus) raramente foi mais do que uma amável destilação pop/folk/country em registo de harmonias vocais de catequese, límpidas, cristalinas e, na maioria das vezes, sumamente banais e repetitivas.

(2011)

2 comments:

soso said...

MENTIRA!

João Lisboa said...

VERDADE!