PRÊT-À-PORTER

Vários - Flipper Psychout

Desde, pelo menos, Crime And Dissonance (2005) – preciosíssima compilação, publicada pela Ipecac, de algumas das mais genialmente experimentais bandas sonoras de Ennio Morricone para "gialli", pornolixo e demais gloriosa xungaria cinematográfica de série-Z que a História, muito injustamente, não registou –, que ficámos a saber quantas jóias se ocultam por trás de cenários de má reputação, condenadas ao esquecimento pela tirania do bom gosto. Já há década e meia, por altura do revivalismo do "easy-listening", idêntica reabilitação havia trazido à superfície um considerável número de pérolas do universo pré-rock’n’roll que, após prolongada travessia do deserto, foram, enfim, redescobertas. A "library music" – esse poço sem fundo de kits musicais prontos-a-usar pela rádio, cinema e televisão, gravados a metro por legiões de anónimos (ou nem tanto) instrumentistas e compositores –, apesar dos meritórios esforços de Luke Vibert, em Nuggets (2001), não teve igual sorte.

Pelo que é de lançar três ou quatro salvas de foguetes em honra de Alessandro Casella e daquele domingo de 1997 em que, numa feira-da-ladra de Roma, tropeçou na arca do tesouro que continha gravações das etiquetas Canopo, Deneb, Market, Flirt ou Octopus, todas elas subsidiárias da italiana Flipper Music, laboratório inesgotável de entidades sonoras mutantes produzidas com orçamentos inexistentes, entre 1969 e 1975. Agora, finalmente exumadas, mergulhemos, pois, na cornucópia de psicadelismos de bolso, funk de cordel, "exotica" artesanal e sci-fi dançante, criados em miraculoso piloto automático por Alessandro Alessandroni (o assobiador de serviço de Morricone), Sandro Brugnolini, Amedeo Tommasi, Roberto Conrado e mais um punhado de sapientíssimas eminências pardas.

(2011)