13 August 2010

TEEN SPIRIT



Os Pontos Negros - Pequeno Almoço Continental

Eles dizem “Não sei ler escalas em clave de sol, e muito menos em clave de fá, para Mozart, Chopin e Ravel, sou um mal agradecido do pior que há” e não poderia existir melhor cartão de visita: de um só golpe, inscrevem-se, instantaneamente, na grande tradição de uma outra música clássica, a iniciada por Elvis Presley que também, muito descontraidamente, declarava “Não sei ler música, no meu ramo de actividade não é necessário”. E os Pontos Negros parecem ser a mais recente confirmação da tese: de obscura banda de garagem chocada no viveiro das catacumbas da Igreja Baptista de Queluz e dada à costa na grande maré FlorCaveira/Amor Fúria de 2008, rapidamente saltou para a arena do circo das multinacionais, desesperadas por entrever um oásis no meio do infindável deserto de uma crise que, para elas, chegou muito antes da crise-propriamente-dita, tal como uns valentes milhões de desempregados a conhecem.



E irão os moços dar uma enorme alegria – regional, portuguesa, portanto, não tão enorme assim, mas quem dá o que tem… – a Doug Morris, o CEO do Universal Music Group? Não é impossível. Pelo menos, desde o anterior Magnífico Material Inútil, é obrigatório reparar que, se o “teen spirit” permanece integralmente presente, aquele lado mais desagradável das borbulhas do acne parece definitivamente resolvido. Nem tudo é perfeito mas há condimentos simpaticamente vampireweekendianos enxertados na matriz panque (mantenhamo-nos fiéis à terminologia das origens), um bem apreciável e inteligente domínio da dinâmica da besta pop/rock e, particularmente, em "Se O Variações Fosse O Meu Barbeiro" – todo um programa, como se imagina –, uma assaz promissora derrapagem para a electricidade descontroladamente em roda-livre que não lhes fica nada mal. A seguir com muita, muita atenção.

(2010)

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