MUSICAL ULTRA-CAMP
The Irrepressibles - Mirror, Mirror
De acordo com o que apregoa o manifesto, os Irrepressibles movem-se "na terra de ninguém do nosso rescaldo cultural capitalista pós-moderno, brincando com as cinzas, chorando a sua ruína", "o seu nome é um apelo às armas", "não desejam jogos estafados, por isso, irritam-se e inventam novos". É uma maneira de dizer. Porque, ouvido Mirror, Mirror, o que o contratenor Jamie McDermott e a sua orquestra de câmara de cordas e sopros têm para oferecer é um histérico teatro musical de ultra-"camp" barroco em que, mesmo condescendendo em não lhe pronunciar o estado de rigor mortis, não se descobre muito mais de tudo aquilo que, do Bowie "glam" aos Roxy Music-versão-plumas-e-lantejoulas, às tragédiazinhas "kitsch" de Marc Almond, ao "grand-guignol" dos Parenthetical Girls ou ao romantismo murcho e lacrimoso de Antony Hegarty (cujo timbre, em balidos de soprano ovino, McDermott reproduz com assinalável e aborrecida fidelidade) – com três ou quatro contribuições do gerador automático de arranjos de que a Philip Glass Inc. registou, há muito, a patente –, a história da pop mais cenograficamente excessiva não tenha já conhecido, arquivado e, em casos como este, muito merecidamente esquecido.
(2010)
2 comments:
"cujo timbre, em balidos de soprano ovino, McDermott reproduz com assinalável e aborrecida fidelidade"
:)
Se o resto da crítica faz com que não apeteça ouvir o disco, este excerto, pelo contrário, pede para o ouvir e que soltemos sonora gargalhada.
A propósito: pela expressão na capa do seu último disco, dir-se-ia David Fonseca temer e antecipar crítica de João Lisboa. :)
"David Fonseca temer e antecipar crítica de João Lisboa"
Nada tem a temer. Não o ouvi. Só no rádio dos táxis. Apesar de, nesse inigualável universo, a Rádio Amália se ter tornado praticamente um monopólio.
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