09 September 2009

À BOLEIA


Os operacionais de The Beatles Remastered
(Allan Rouse é o primeiro à direita)


É perfeitamente possível imaginar um avô e o neto trauteando, felizes, "Mamma Mia", dos ABBA. Mesmo que o sucesso recente do filme homónimo tenha contribuído para isso. Mas já não é garantido que – por muito clássicos e intemporais que os Beatles sejam – tão terno quadro familiar se possa repetir tendo "When I’m Sixty Four" ou "Tomorrow Never Knows" como banda sonora. A popularidade da banda de Liverpool não definhou mas nunca terá sido absolutamente transgeracional. Tal como os favores da crítica relativamente ao que será a sua obra-prima se têm dividido, de Sgt. Pepper’s a Revolver, do Blue Album 1967-1970 à tendência contemporânea para os divinizar ainda verdes, acabadinhos de chegar do Reeperbahn, de Hamburgo. Em tempo de esqueléticas vacas para a indústria discográfica, a operação The Beatles Remastered aponta, pois, para uma sorridente hipótese de voltar a vender o catálogo completo encaixotado (os doze álbuns de estúdio, a banda sonora de Magical Mystery Tour, as compilações Past Masters vol. I e II, em versões "stereo" e "mono") ou à peça, acrescido dos proverbiais bombons capazes de seduzir os mais recalcitrantes.



No caso, "booklets" com fotografias e textos inéditos e, em cada CD, um minidocumentário acerca do álbum. Um anzol paralelo – esperando-se que, também aqui, funcionem as etéreas "sinergias" – é, entretanto, lançado em simultâneo: The Beatles: Rock Band, novo videojogo da série Rock Band, em que os jogadores poderão realizar o seu fetiche de serem John, Paul, George ou Ringo por umas horas e tocar os respectivos instrumentos com graus diversos de proficiência. No número de Agosto da revista “The Word”, comentando o enorme atraso nas remasterizações da integral dos Beatles em comparação com outras bandas ‘históricas’, Andrew Harrison escreve: “Ironicamente, não foi um factor do passado mas, sim, do futuro que, finalmente, pôs os CD remasterizados cá fora. Os Beatles não estão a publicar um jogo de vídeo à boleia da sua música. Estão a reeditar a sua música à boleia de um jogo de vídeo”.

(2009)

8 comments:

Táxi Pluvioso said...

O grupo mais aborrecido da História cuja influência musical desembocará no Tony Carreira e Marco Paulo ( dois yé-yés em Portugal). Adorado no Vaticano, onde estão todos os seus fãs actuais, que a editora teima em embolsar mais cacau, para ajudar a balança de pagamentos do reino do prince Charles.

A música pop a sério começou com os Black Sabbath.

Anonymous said...

As contradições são gritantes mas não necessariamente "desesperançosas". Ao mesmo tempo que surgem no interior da indústria discográfica bons músicos/poetas, com textos profundamente críticos em relação ao rumo da sociedade, vendem discos/cds em quantidades de tal forma exorbitantes que rapidamente se transformaram em objectos manipuláveis por uma indústria que entrou em declínio (mas continua a estrabuchar) tb pela cegueira dos lucros desmesurados. Não há grandes novidades. Há apenas oportunidades de negócio e quem tire disso grandes proveitos. O mais interessante é que tal fenómeno proporcionou-nos grandes obras primas. Várias canções dos Beatles fazem parte desse reportório. Na linha do q diz o facto de os Beatles não se terem tornado transgeracionais poderá ser ultrapassado com o tal jogo, fenómenos q rapidamente se desmontam (como o faz aliás).
Cumprimentos

Ana said...

(pensamento filosófico português: http://vidabreve.wordpress.com/2009/09/08/entrevista-imaginaria)

nassar said...

Aborrecidos, sim, como o amor correspondido e outras esquisitices do género.

Táxi Pluvioso said...

... o amor divino.

Anonymous said...
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Anonymous said...
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João Lisboa said...

"(pensamento filosófico português: http://vidabreve.wordpress.com/2009/09/08/entrevista-imaginaria)"

All you need is love.