26 July 2008

BOSSA-NOVA (III)



Getz/Gilberto (1963)
Stan Getz, João Gilberto, Tom Jobim & Astrud Gilberto

Não terá sido um dos álbuns fundadores da bossa-nova mas foi, de certeza, aquele que, fechando o círculo que, do jazz tinha ido dar à música brasileira, regressou ao jazz, juntando o seu criador e a voz quase intangível da sua mulher, Astrud, num dos mais perfeitos álbuns de sempre. Quase todo o “british lounge/jazz revival” de 80 veio a ele beber. No estúdio, porém, o diálogo terá sido assim: “João (em português): ‘Tom, diga a esse gringo que ele é um burro’; Tom (em inglês): ‘Stan, o João está a dizer que o sonho dele sempre foi gravar com você’; Stan, ‘Curioso, pelo tom de voz, não parece ser isso o que ele está a dizer… Aqui nasceu, verdadeiramente, a “Garota de Ipanema”.






Chega de Saudade (1959)
João Gilberto

Para a História, a bossa-nova nasceu em Agosto de 1958, com o single nº 14.360 da Odeon, do cantor João Gilberto e as músicas “Chega de Saudade” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e “Bim Bom” (do próprio cantor). Mas só com o álbum do ano seguinte a modernidade chegaria, de facto, à música brasileira. Na contracapa, Jobim anunciava: "João Gilberto, em pouquíssimo tempo, influenciou toda uma geração de arranjadores, guitarristas, músicos e cantores".






António Carlos Jobim (1963)
Tom Jobim

Sob convite da Verve, Tom Jobim regista um álbum inteiramente instrumental onde alinha “Chega de Saudade”, “Insensatez”, “Desafinado e “Garota de Ipanema”, entre outros. O que começara a germinar em Canção do Amor Demais (álbum de Elizeth Cardoso, de 1958), de colaboração com Gilberto e Vinícius, floresce, agora, em puríssimo “cool”. A “Downbeat” atribuiu-lhe a classificação máxima.






Nara (1964)
Nara Leão

Jovem, moderna, Nara, no mesmo instante em que mergulhava na bossa (cantava Carlos Lyra, Vinícius de Moraes e Baden Powell) anunciava a posterior reavaliação do samba, retomando o reportório de músicos "do morro" como Cartola, Zé Kéti e Nelson Cavaquinho. Com Astrud Gilberto, uma das outras vozes “minimais” que contribuiriam para uma certa definição da personalidade da bossa.






O Compositor e o Cantor (1965)
Marcos Valle

Guitarrista, pianista, compositor, surfista, carioca e fã de jazz, colega de liceu de Edu Lobo e Dorival Caymmi, Marcos Valle – que, muito pouco tempo depois, abandonaria o barco da bossa em direcção às mais longínquas paragens sonoras – neste seu segundo álbum, gravava, de um jacto, diversos futuros clássicos: "Samba de Verão", "Preciso Aprender a Ser Só", "Seu Encanto", "A Resposta", "Gente".






Depois do Carnaval (1963)
Carlos Lyra

Embora não tão sofisticado quanto Jobim ou Gilberto, Lyra inovou na bossa-nova ao propôr letras de temática social e, neste terceiro álbum – onde, pela primeira vez, Nara Leão entrou num estúdio – reunia uma impressionante lista de temas ("Marcha da Quarta-Feira de Cinzas", "Canção que Morre no Ar", "Influência do Jazz" e "Se é Tarde me Perdoa") que as enciclopédias da bossa registariam.






Francis Albert Sinatra & António Carlos Jobim (1967)
Frank Sinatra & Tom Jobim

Se o álbum de Stan Getz com Gilberto, Jobim e Astrud assinalou a definitiva internacionalização da bossa, esta obra-prima absoluta de Sinatra com Jobim (em interpretações bilingues de sete temas de Tom) e orquestrações mais que perfeitas de Claus Ogerman é, indiscutivelmente, a sua coroação máxima. Para além de géneros e categorias, um dos amovíveis nas listas do século XX.



(2008)

8 comments:

Anonymous said...

O «Chega de saudade» do João Gilberto e o «Nara» de Nara Leão, parecem-me virtualmente impossíveis de encontrar na lusopátria...
P.S. Do Brasil, musicalmente falando, melhor do que a bossa-nova só mesmo o tropicalismo...

Eu said...

Maravilhoso.
Um grande abraço para ti João!

João Lisboa said...

Rui: só esses?nada mal...

Obrigado, Hugo (whoever you may be).

Anonymous said...

«só esses?nada mal...»

Só procurei esses dois, porque são os que me faltam. Provavelmente, deve haver mais alguns ausentes.

Anonymous said...

Começo a desconfiar que a insistência do Rui G e do João Lisboa no Getz/Gilberto é uma forma dissimulada de induzir o leitor ao consumo de Martini com Azeitona.

João Lisboa said...

Sssssshiuu... não nos estragues o negócio que isto não está fácil para ninguém...

Unknown said...

Acho que o Dorival Caymmi e o Marcos Valle (de quem gosto muito)jamais foram colegas de liceu. A diferença de idade entre eles é de 30 anos.

Raquel Oliveira said...

E pensar que aqui nas banquinhas do centro da cidade no Rio, na saída do metro se vendem LPs da bossa, originais.

O problema é que ninguém mais tem vitrolas!