TONE POEM
Paddy McAloon - I Trawl The Megahertz
Para quem, publicando álbuns quase bissextamente, confessa ter cinco ou seis óperas e mais uma dúzia de musicais na gaveta, I Trawl The Megahertz não pode ser uma surpresa. E, sendo o seu autor o mesmo Paddy McAloon (dever-se-à dizer ex-Prefab Sprout?) que um dia me confessou "Detestaria que me vissem como um tipo antiquado. Na verdade, acho-me extremamente moderno. Simplesmente, não tenho o menor apreço pelo rumo que o mundo moderno seguiu", a surpresa ainda deveria ser menor. Mesmo assim, não é todos os dias que se depara com um gigantesco "tone-poem" orquestral deste calibre elaborado em torno de uma recolha de textos retirados de chat-shows e programas radiofónicos "de microfone aberto", dieta compulsiva de McAloon durante um período de cegueira temporária provocada por um descolamento de retina.
(o resto aqui)
Narrados friamente por Yvonne Connors, os textos - uniformemente excelentes — giram com deliberado distanciamento em torno de todos os "mal de vivre" existenciais ("repeat after me, happiness is only a habit") e alguma amável interrogação filosófica, e deixam-se conduzir pelos sofisticados encadeamentos harmónicos dos arranjos de David McGuiness interpretados pelo ensemble Mr McFall's Chamber, numa espécie de Laurie Anderson-meets-Ravel na mansarda de Debussy sob o olhar circunspecto de Zappa, Bernstein e Francis Lai. Há a oceânica faixa-título (vinte e tal minutos) e mais outras oito que prolongam e desdobram este delicadamente bizarro sinfonismo de câmara em todas as tonalidades. Dizer "genialmente fora de época" será uma redundância?
(2003)
(2003)
9 comments:
«Dizer "genialmente fora de época" será uma redundância?»
Não me parece, até porque com o passar dos anos não se nota tanto que a música fosse «fora de época», permanecendo o acento tónico na genialidade. Apesar de, a meu ver, o João Lisboa também exagera um pouco nos elogios que faz ao disco. Para mim «genialmente fora de época» é, cada vez mais, o «Andromeda Heights» (ainda da fase Prefab Sprout). Mas você é que tem o talento mas conseguir influenciar, muitas vezes, o nosso gosto, eu sou um mero apaixonado por música...
correcção (antes do acordo ortográfico): «exagerar» no lugar de «exagera», e «tem o talento para conseguir» corrige «mas conseguir».
É o que dá não rever o texto e escrevê-lo já meio ensonado...
I'm telling myself the story of my life. :)
Gosto mesmo muito desse album e até ando numa fase em que o ouço bastante.
Não sendo o João Lisboa (sou um nadinha mais baixa e tenho os olhos claros, mas até somos muito parecidos), eu diria que o Andromeda Heights é antes um clássico eterno, ao passo que o I trawl the magahertz é "apenas" genialmente fora de época. Mas eu nem sei do que falo. Don't mind me.
"Não sendo o João Lisboa (sou um nadinha mais baixa e tenho os olhos claros, mas até somos muito parecidos)"
Ainda no outro dia, distraído com a muita azáfama, o senhor do café me disse "Bom dia, menina Alice!". Depois, reparou melhor, desculpou-se muito embaraçado e reconheceu "Onde é que eu tinha a cabeça?... A menina Alice usa o cabelo muito mais curto!"
Mesmo assim, tens uma vida faustosa e regalada. Eu sou uma cidadã anónima que passa a vida a ser abordada na rua por hordas de fãs tuas. É de tal maneira que, quando alguém diz João Lisboa, eu olho logo, pronta a usar a line da praxe para desfazer o equívoco. Não é fácil isto...
"Eu sou uma cidadã anónima que passa a vida a ser abordada na rua por hordas de fãs tuas. É de tal maneira que, quando alguém diz João Lisboa, eu olho logo, pronta a usar a line da praxe para desfazer o equívoco. Não é fácil isto..."
Agora imagina eu... gasto fortunas em perucas e óculos escuros.
«Não sendo o João Lisboa (sou um nadinha mais baixa e tenho os olhos claros, mas até somos muito parecidos»
Menina-Alice:
De qualquer modo, fico-lhe agradecido pela resposta - e já que são tão parecidos, registo a sua resposta como se do próprio se tratasse -, e acabo por nem discordar consigo. Ainda assim, para o género clássico eterno, tinha guardado o «Protest songs» e o «Jordan: the comeback».
P.S. Se a confusão no café pega no «Expresso» ainda vamos ter uma crítica musical no jornal assinada por Menina-Alice...Será?
"Se a confusão no café pega no «Expresso» ainda vamos ter uma crítica musical no jornal assinada por Menina-Alice...Será?"
Oh... a menina Alice até poderá estar a passar ao lado de uma grande carreira. Mas pode sempre considerar-se uma hipótese de "outsourcing" crítico.
Que nem lhe passe pela cabeça, rui g. O seu a seu dono. Eu sou outsider (e não outsourcer!). O Expresso perdia mais de metade do encanto sem o João Lisboa, corredor acima, corredor abaixo, sempre carregado de papéis e pastas e o caneco. O senhor do café também baralha um bocado os bloggers todos. Ainda no outro dia o topei a chamar Daniel Oliveira à Ana de Amsterdam.
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