O "F" DE FADO
Na edição de Julho da "Uncut", Garth Cartwright inicia assim a crítica a Transparente, de Mariza: "After José Mourinho, Mariza is currently Portugal's most famous export". Em bom rigor, alguém lhe deveria ter chamado a atenção para uma importante omissão: Fátima, de agora em diante ainda mais exportável com a imagem de marca da brevemente santa, Irmã Lúcia. Até porque há que reconhecer de uma vez por todas que, no que à utilização dos famigerados três F (futebol, fado e Fátima) diz respeito, a péssima reputação do Estado Novo é inteiramente imerecida: em comparação com o "carpet bombing" mediático actual, a actividade de propaganda e intoxicação de massas dos responsáveis pelo "marketing" ideológico salazarista não passou de um tosco trabalho de amadores pelintras. Mas concentremo-nos agora no fado. Porque parece começar a instalar-se a perigosa ideia de que, se a internacionalização da música (e dos músicos) portugueses é para levar a sério, existe uma e só uma possibilidade: apostar tudo no fado, vender os velhos mitos e lendas devidamente "modernizados" (tal como Mourinho já sabe comer com faca e garfo e Fátima está disponível em DVD) e, no interior dos circuitos internacionais da "world music", conquistar meia dúzia de praças fortes onde, em puro reflexo condicionado, uma vez pronunciada a palavra "fado", a resposta seria, invariavelmente, "compro!".
Convém, porém, recordar que, desde que, numa noite do Verão de 87, no "Empress Of Russia", cerca de três dezenas de representantes de editoras independentes, promotores de concertos e jornalistas inventaram a designação de "world music", se esta ganhou, sem dúvida, uma notoriedade que, antes, não tinha, tudo se processou, inevitavelmente, segundo as mais estritas regras da eleição da "playmate do mês": em Janeiro, descobrem-se as vozes búlgaras, em Fevereiro, os reformados e pensionistas cubanos, em Março, Cesária Évora, em Abril, a folk escandinava, em Maio, o canto gutural de Tuva, em Junho, os sufis do Paquistão, em Julho, as polifonias corsas e por aí adiante, de "centerfold" em "centerfold". Com essa prodigiosa invenção da "música céltica" (na verdade, maioritariamente, peças e danças de salão europeias dos séculos XVII e XVIII) sempre como pano de fundo. Claro que, em Agosto, já muito poucos se recordarão da Miss Janeiro a menos que ela possua outros dotes e meios de afirmação... O fado deve ter sido, para aí, a Miss Novembro. À qual, assim que os canais de divulgação ficarem entupidos e sobrecarregados, estará reservado o mesmo destino (o que, diga-se, é muito fadista) das colegas dos meses anteriores. A menos que ela (ou alguém por ela), entretanto, seja capaz de ir explicando que, lá de onde vem, conhece uma ou duas amigas um bocadinho diferentes mas igualmente simpáticas. (2005)
5 comments:
lol, só podia ser este vídeo para este post
obrigada pelo vídeo. não conhecia...
obrigada 3 vezes, como a Amália
O vídeo ainda está quente, foi da última - literalmente última - edição de domingo passado. Por sinal, como eles diriam, "fraquiiiinha"...
off the record: vê-me lá isto:
http://avatares-de-desejo.blogspot.com/2007/12/e-eu-abdico-da-monica-bellucci.html
pffff, como se a Monica fosse dele...
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