IN-BETWEENS
Robert Forster/Grant McLennan - Intermission: the best of the solo recordings 1990-1997
Não sei. Não vi. Não ouvi. Não estive lá. Mas seria capaz de jurar que, entre Robert Forster e Grant McLennan – quando juntos nos Go-Betweens – existia uma espécie de pacto tácito de controlo mútuo de qualidade que, provavelmente, funcionaria quase sem necessidade de palavras para que cada um, em cada momento, fosse capaz de se aperceber se aquilo de seu que propunha para o reportório da banda merecia, de facto, o selo de aprovação.
É verdade que, em todos os albums (pré-separação em 1989 e pós-reunião em 2000), não era extraordinariamente difícil identificar quais as canções que pertenciam a um e a outro: McLennan era responsável pelas guitarras em gravidade-zero, pelos ganchos das melodias de vapor-de-água, pela melancolia (mal) disfarçada em tons pastel; Forster era todo ele em ângulos, extravagantemente grave, um sedutor “gauche” que parecia querer, à força, moldar o idioma pop à sua escrita que pedia mais teatralidade e narrativa do que poder de engate instantâneo.
Mas, no grupo, Robert tendia para Grant e Grant tendia para Robert, de uma forma tal que, nos Go-Betweens mais do que, talvez, em qualquer outra alquimia criativa a quatro mãos, se podia dizer com toda a certeza que o todo era definitivamente superior à soma das parcelas. Não que isso (em qualquer das duas encarnações) lhes tenha servido de muito: desde o início até à extinção derradeira – consumada com a morte de McLennan, a 6 de Maio do ano passado –, pareceram ter apenas existido para dar corpo ao conceito de “banda de culto”, vendendo um número de cópias de cada gravação inversamente proporcional à incomensurável devoção que o seu fidelíssimo e reduzido número de fãs lhes devotou.
Intermission é, então, um duplo “best of” dos anos da separação onde, com treze canções em cada disco, as virtudes individuais e as consequências do afastamento resultam perfeitamente nítidas: Watershed (1991), Fireboy (1993), Horsebreaker Star (1994), In Your Bright Ray (1997), de Mc Lennan, e Danger In The Past (1990), Calling From A Country Phone (1993), I Had A New York Girlfriend (1994) e Warm Nights (1996), de Forster, brilhariam intensamente na discografia de muitos outros (e o que, deles, foi agora para aqui filtrado é autênticamente precioso) mas, perante o que herdámos da entidade-maior-Go-Betweens, doeu sempre um pouco pressentir como, submetidas ao “give and take” no interior da banda, em lugar dos oito álbuns individuais, estas canções poderiam ter, afinal, dado origem a outros quatro ou cinco Liberty Belle ou Spring Hill Fair.
Ironia final: muitas vezes qualificado, com Mc Lennan, como “critic’s darlings”, o sobrevivente Forster, entre escrever uma ou duas canções por ano, é, hoje, crítico de música na Austrália. (2007)
16 September 2007
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