DEPARTAMENTO "PEQUENOS ÓDIOS DE ESTIMAÇÃO" (IX)
CocoRosie - La Maison De Mon Rêve
É um daqueles típicos casos em que não se sabe se se há-de rir, se se há-de chorar ou, pura e simplesmente, ficar (um bocadinho) irritado. Mas o que se sabe de certeza é que a mais recente invenção do universo "indie/freak/alternativo" que, aparentemente, dá pelo nome de "new folk" ou "free folk" (seja lá isso o que for) não é senão a tradução contemporânea de algo que sempre teve o seu público: a estética do tolinho da aldeia, do suposto "idiot savant" que, quanto mais incoerente e apatetado, maior é o séquito de seguidores, presos de cada pérola que o "mestre", inadvertidamente, segrega. Na famigerada sequência de dementes com selo de aprovação "indie" como Daniel Johnston, Julian Cope ou Rocky Erickson, abre-se hoje um novo campo de acção que combina com rara felicidade a máxima incompetência do punk, o pataroco bucolismo hippie e o surrealismo tal como é praticado nos melhores hospitais psiquiátricos. Agora, em registo preferencialmente acústico, toscamente artesanal (deve dizer-se "lo-fi"), "poeticamente" infantil e "naïf".
Já conhecíamos Devendra Banhart, Puerto Muerto, anuncia-se Joanna Newsom, eis, então, as CocoRosie. Ou seja, as manas Bianca e Sierra Cassidy, americanas expatriadas na inevitável mansarda parisiense, entretidas a miar melodiazinhas de sol-e-dó (que, garantem-nos, se inspiram na vetusta tradição dos blues e do gospel), a tocar um ou dois acordes na guitarra, um fiozinho de sopro na flauta e a produzirem "bruitages" de fundo porque sim, porque é "cute". Não sei bem porquê mas também nos confessam coisas lindas como "all I want with my life is to be a housewife", "I once fell in love with you just because the sky turned from gray to blue" ou, quando lhes dá, digamos, para a elevação "intelectual", "every angel's terrible, said Freud and Rilke all the same, Rimbaud never paid them no mind, but Jimmi Morrison had his elevator angels". Yeah, right. Na capa elas dão beijinhos. Voltem Belle & Sebastian, tudo vos está perdoado. (2004)
15 comments:
imagino que escolheste a foto ao acaso, ou seja, são todas mimosas.
Todas. "Mimosas" é mesmo a palavra exacta para as manas cocó.
[modo dente arreganhado, saliva a escorrer, olho esbugalhado] mais! mais! mais! [modo dente arreganhado, saliva a escorrer, olho esbugalhado]
Eu sei que este comentário é inútil, mas não ficaria bem comigo se não te abrisse o coração: se alguém, algum dia, em algum lugar, te disser que fazes isto mal, podes fazer o esgar de superioridade da espécie e mandá-lo(a) PQP.
as manas não são três?
Farto-me de rir com os teus ódios de estimação. Tens uma verve literária que se revela sobretudo quando toca a dar porrada. Mas atenção: o que tu escreveste sobre os Belle and Sebastian está parcialmente errado. A auto-indulgência "twee" da música deles só aparece a espaços. Eles têm excelentes canções (exs: Stars of Track and Field, Seeing Other People, Lazy Line Painter Jane, I'm Waking Up to Us), boas letras (apesar dos VU de barro!) e são muito bons nos arranjos! Foste algo tendencioso na tua análise.
ALGO tendencioso?... ALGO???!!!
Não venho aqui para ser ofendido!
Escolheste as maçãs podres e definiste o pomar a partir delas. Pouco objectivo, pronto!
POUCO objectivo?!!!... Um gajo até no seu próprio blog é enxovalhado...
AVISO MUITO SÉRIO À NAVEGAÇÃO: fica terminantemente proíbido qualificar-se qualquer destes posts como "objectivos", "ponderados", "equilibrados", "pouco objectivos", "pouco ponderados" e "pouco equilibrados" ou "algo subjectivos", "algo imponderados" ou "algo desequilibrados" sob pena de severas retaliações.
As alternativas "deves ser mazésurdo", "tens uma orelhinha de Van Gogh para a música" ou "se fosse a ti, dedicava-me era à estomatologia" são francamente preferíveis.
tu queres é mimos!
«orelinha de Van Gogh para a música» não devia contar, todos nós sabemos que a orelha não serve o ouvido mas os olhos.
Ok, pensei que o debate era possível. As minhas desculpas por não recorrer ao insulto.
O debate é possível. Mas que nunca a possibilidade de ser "objectivo", "ponderado" e "não tendencioso" seja introduzida na equação.
Um homem sente-se...
Sim, eu bem sei que são palavras terríveis para quem vê na crítica de música um veículo de expressão literária. Mas a objectividade será maior quando se critica um disco olhando para as canções no seu conjunto (por ex, comparamos, faixa a faixa, "Sgt Peppers" com "Revolver" e concluímos que o segundo é bem melhor) do que apenas para as "maçãs podres".
Vai ao Tube ouvir os temas dos B&S que indiquei e diz-me que são maus. Se for o caso, então temos óptimas condições para a troca de insultos.
ouviste realmente alguma musica delas antes de ires buscar essas letras à net?
damm.
That's the spirit!!!!
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