"Becoming All Alone"
(sequência daqui) O modo como tudo isto, observado sob vários ângulos, acaba por estar presente em Home, Before and After (oitavo álbum de estúdio de Regina e o sucessor de Remember Us To Life, de 2016), concluído antes do início do morticínio ucraniano, é apenas mais um sinal de como, olhando para os detalhes do mundo, Regina Spektor tanto os amplia desmedidamente como os transpõe para a dimensão de quase aforismos virtualmente independentes de tempo e lugar: “The world began outside of time , some days it’s yours, some days it’s mine, some days it’s cruel, some days it’s kind, it just can’t stay the same”, é o pequeno engenho verbal que, à beira do final, desvenda o sentido de "Spacetime Fairytale" – o épico quase wagneriano de 9 minutos que Stephen Sondheim poderia ter sonhado num grandioso devaneio psicadélico interrompido por um "intermezzo" de "tap-dance"; "Becoming All Alone", retoma a peculiar teologia spektoriana iniciada em "Laughing With" (“God could be funny, when told he'll give you money if you just pray the right way, and when presented like a genie who does magic like Houdini”) no relato de como, ao cruzar da esquina, Deus, em paleio de engate, se lhe dirige (“Hey, let's grab a beer, it's awful late, we both right here") mas se esquiva a responder a “Why doesn't it get better with time?”; e, a encerrar, sobrevoando as cordas oceânicas da Skopje Studio Orchestra, um micro-drama indidual transforma-se no ponto de partida para que, em "Through a Door", um terrível e precário ponto de equilíbrio possa ser alcançado: “By tomorrow may it pass, like a shadow or a storm, without darkness, is there light? Without night, is there a morning?” Uma declaração de intenções? Ver, por exemplo, na “Vulture”: “Não crio arte universal. Não faço declarações universais. Não sou uma líder de opinião. Quem se compromete totalmente com um grupo acaba por perder a individualidade”.
1 comment:
E mais um grande disco produzido pelo John Congleton (neste caso a lembrar um pouco o Actor)
Post a Comment