31 August 2014


"Well, art is art, isn't it? Still, on the other hand, water is water. And east is east and west is west and if you take cranberries and stew them like applesauce they taste much more like prunes than rhubarb does. Now you tell me what you know" (Groucho Marx); este tentou mas não foi muito longe - banda sonora recomendada
The Unthanks - "Shipbuilding" (E. Costello)

30 August 2014

A porteirinha jura pela saúde da família toda que, se disse o que disse há 8 dias, foi porque a dona Umbelina do 3º direito lhe tinha garantido pela alma do falecido marido, que Deus tenha em descanso, que era verdade


"One has to know where a song should go and how to develop a story, and for the two artists to have unity. I never thought I could share the songwriting process because I'm such a private writer. It's very intimate. I close the curtains, I lock the door. The thought of anyone hearing me terrifies me which I know sounds strange because I sing in front of people every night. To share that moment with someone is very special. To work with Marianne [Faithfull} in her apartment in Paris, in bright sunlight, was really amazing. We wrote the song in 20 minutes – it was incredibly productive! I remember her speaking the lyrics of her songs and I listened to her voice thinking, 'God, she could make a shopping list sound incredible'" (Anna Calvi)

Walter Martin - "The Beatles (When Ringo Shook His Mop)"
 
"Fim dos brasões coloniais no Jardim da Praça do Império só com aval da DGPC"

29 August 2014

FKA twigs - "Two Weeks"

Dieta mediterrânica * 
(ou um temperozinho siciliano 
só faz bem ao PIB)
 

* mais uns negócios de armas, submarinos e tal, a condizer
(O 4º ANO A SEGUIR AO) ANO DO TIGRE (CVIII)

 



Cold Specks - "Absisto"

28 August 2014

Opá, dêem lá um espacinho qualquer de comentadeiro à Floribella senão temos amuo e choraminguice...

(clicar na imagem para ampliar + reportagem da TVI sobre o GPS aqui; imagem AEDMU)
Hunting people for Jesus

"One Monday in May, I was setting off from Washington to Colorado Springs, home of the United States Air Force Academy. I had kindly been invited by the academy’s 'freethinkers association', a loose-knit group of cadets and instructors who are without religious affiliation. As I was making ready to depart, and checking my e-mail, I found I had been sent a near-incredible video clip from the Al Jazeera network. It had been shot at Bagram Air Force Base last year, and it showed a borderline-hysterical address by one Lieutenant Colonel Gary Hensley, chief of the United States’ military chaplains in Afghanistan. He was telling his evangelical audience, all of them wearing uniforms supplied by the taxpayer, that as followers of Jesus Christ they had a collective responsibility 'to be witnesses for him', Heating up this theme, Lieutenant Colonel Hensley went on: 'The Special Forces guys, they hunt men, basically. We do the same things, as Christians. We hunt people for Jesus. We do, we hunt them down. Get the hound of heaven after them, so we get them in the kingdom. Right? That’s what we do, that’s our business' (...)" (In Defense of Foxhole Atheists - Christopher Hitchens)

 

27 August 2014

Mas evidentemente que sim


A dúvida é: mas porque é que, 40 anos depois, ainda ali estava a porra dos brasões? (terá, sabe-se lá, alguma coisa a ver com isto ou, quiçá, isto?)

O Grande Cortejo Imperial (Lisboa 1940)

A Grande Exposição do Mundo Português 1940 (real. António Lopes Ribeiro)
FKA twigs (II)





Ou um deputado negro (se não erro, só há um e é do CDS)
NENHUM GÉNERO 


“Quando comecei a publicar a minha música e ninguém sabia quem eu era, li comentários como ‘nunca ouvi nada parecido com isto, não se inclui em nenhum género’. Seis meses depois, surgiram fotografias minhas, e a opinião passou a ser ‘Ah, é R&B’, diz ao “Guardian” Tahliah Barnett, aliás FKA twigs, mestiça britânica de ascendência jamaicana e espanhola. Os preconceitos gostam de ser afagados mas, no caso de twigs, ficar-se por aí é um intolerável abuso: se fosse absolutamente necessário encontrar-lhe uma proximidade estética, muito mais plausível seria evocar o Tricky de Maxinquaye, os Portishead, ou a Björk de Homogenic. Mas, mesmo indo por aí, errar-se-ia ainda o alvo por muitas léguas. Porque o que nos anteriores EP1 e EP2 e, agora, em LP1, se descobre é aquilo que na mutante relojoaria digital do assombroso "Pendulum" ela confessa: “I dance feelings like they’re spoken”.



E, partindo de "Preface" – algo como uma Meredith Monk em órbita –, em que cita o poeta do século XVI, Thomas Wyatt (“I love another and thus I hate myself”), parece entregar-se a um ensaio distorcido sobre um tema sugerido por Björk em "Enjoy": “Sex without touching”. Simultaneamente sensual e incorpórea, numa narração impressionista com tanto de carnal como de artifício tecnológico e onde a obsessão detalhista se exibe em redução ultra-minimal, tudo se joga entre submissão e dominação, ascese e êxtase (“My thighs are apart for when you’re ready to breathe in”, “I want to fuck you like an animal”, “ How would you like it if I sucked before I bite”, “You get me closer to god”), espécie de magnífica oração carpocrática futurista, só osso e tecido conjuntivo sonoro numa TAC em "slo-mo".


Quase à mesma altura, eleva-se Neuroplasticity, de Cold Specks, heterónimo de Al Spx, igualmente "nom de plume" da canadiana residente em Londres de que não conheceremos o nome real mas que, asseguram-nos os vendedores de kits de catalogação, pratica a “doom soul” e/ou “morbid Motown” e em cuja alma coabitariam Tom Waits, Nick Cave, PJ Harvey e Macy Gray. Não será inteiramente errado mas, tal como com twigs, o espesso crepúsculo e as maldições que por aqui pairam (“I smother you with silence until you choke on dead air”) são infinitamente mais densos do que o que se deixa arrumar em uma ou duas fichas de arquivo.

24 August 2014

Afinal, segundo "Les Inrocks" - aqueles fulanos franceses facilmente atreitos à ejaculação precoce perante tudo o que pareça "nouveau et interessant" e que, em tempos, urravam ao universo que a pobre da Bévinda era uma oferenda das divindades à espécie humana -, Portugal não será a Florida da Europa mas sim a Califórnia, por via da pop/rock lusa... vamos lá com calma: há duas ou três pepitas mas não é caso para uma histérica corrida ao ouro
É oficial: os impostos vão aumentar este ano (ou, então, o grande líder já começou a ter pesadelos com as eleições)
STREET ART, GRAFFITI & ETC (CXXXVIII)

Lisboa, Portugal, 2014 

(foto "Observador")
Deve estar numa comuna hippie a brincar com o sagrado prepucinho
Como dizia o grande líder
isto está cheio de piegas...

("Expresso")

23 August 2014

INFÂNCIA 


Nas quase quinhentas páginas de Retromania, Simon Reynolds não poderia ter argumentado mais convincentemente do que o fez acerca da patológica dependência da cultura pop contemporânea em relação ao(s) seu(s) passado(s). Às vezes, contudo, acaba por apanhar-se melhor os traços do quadro clínico dando a palavra aos próprios pacientes. É o caso da entrevista de Gonçalo Frota aos novíssimos britânicos Childhood, no “Ípsilon”. Com a candura própria da designação que escolheram para si, “esta gente com a cabeça trancada nos anos 80 e 90 do seu país musical” conta que nunca tinha sequer tentado escrever uma canção mas, no desfecho de uma noite alcoolicamente generosa, pensou primeiro no nome da banda e, só a seguir, na música que haveria de criar. Porque, no fundo, o que importava era descobrir uma alternativa ao risco de “entrar em estado comatoso de tanto se aborrecer com o curso de História de Arte” na universidade de Nottingham. 


Aparentemente, nada de novo, "business as usual" no quintal pop: continua a não ser obrigatória a exigência de formação musical académica para fundar uma banda e muitas germinaram no rico caldo resultante da dissolução do tédio em destilados espirituosos vários. Acontece, porém, que olhar todos os dias o mundo como se fosse a primeira vez pode ser uma frase que não fica mal em postais "new age" mas, como combustível estético, conduz, desnecessária e infantilmente, a reinventar interminavelmente a roda e, supondo-se genial, a produzir infinitas réplicas de genialidades prévias devidamente registadas. É que, não sendo indispensável devorar cordilheiras de enciclopédias nem escutar a integral da pop, década por década, ter a noção de que não vale a pena voltar a compor a obra dos Beatles ou de Jimi Hendrix dá imenso jeito – e um comazinho ligeiro de História de Arte (música incluída) até pode ajudar bastante. Lacunas desse género só por raríssimo acaso levam a destino recomendável e a Lacuna exibida como título do álbum de estreia dos rapazes da terra de Robin Hood é daquelas gigantescas através das quais nos é permitido enxergar um vasto passado (e só um vasto passado): J&MC mas também Stone Roses, puídos cortinados "shoegaze" e abundantes resíduos de psicadelismo multiplamente reciclados. Voltem lá para as aulas, moços! 

20 August 2014

Walter Martin - "We Like The Zoo"

Real. KT Auleta & Lily McMenamy
D.A. Pennebaker: Don't Look Back 
and filming Bob Dylan

Quem Vê Caras (Ou O Que 
Quer Que Seja) Não Vê QIs 



Jodie Foster -132 
Nicole Kidman - 132 
Steve Martin - 135 
Arnold Schwarzenegger - 135 
Geena Davis - 140 
Madonna - 140 
Jayne Mansfield - 149 
Sharon Stone - 154 
Sylvester Stallone - 160 
Quentin Tarantino - 160 
Courtney Love - 160 
James Woods - 180

(daqui)

19 August 2014

O TODO E AS PARTES 


A ideia atribuída a Aristóteles segundo a qual o todo é superior à soma das partes poderá entusiasmar os adeptos das sinergias mas é bastante provável que até o velho trácio concordasse que a sua aplicação ao caso de uma banda como The Walkmen não é fácil. Não se discute que a óptima discografia do grupo de Hamilton Leithauser, Paul Maroon, Walter Martin, Peter Matthew Bauer e Matt Barrick tenha resultado da particular alquimia em acção no interior do sexteto sem a qual (ou com outra composição de reagentes estéticos) tudo teria resultado seguramente diferente. Porém – para chamar à conversa um exemplo de manual –, ao contrário do que aconteceu com os Beatles, da separação no final do ano passado, até agora, não emergiram personalidades individuais que façam sentir saudades da glória colectiva mas três belíssimos álbuns, bem distintos e a estimular o apetite para o que virá a seguir.


Já abordado Black Hours, de Leithauser, preste-se, então, atenção a We’re All Young Together, de Walter Martin, e a Liberation!, de Peter Matthew Bauer. Capítulo mais recente do género musical em formação “cool songs for cool kids” de que The Tragic Treasury, de Stephin Merritt/Gothic Archies (2006), e Leave Your Sleep, de Natalie Merchant (2010) foram antecessores directos, o álbum de Martin é o género de brinquedo que se oferece aos infantes mas com o qual os adultos também se divertem. Serviu de pretexto para colocar Matt Berninger (The National) a cantar "We Like The Zoo (Cause We’re Animals Too)", para convencer Karen O (Yeah Yeah Yeahs) a não insistir no perfil de felina neo-gótica e revelar uma faceta folk bem mais saborosa e, de um modo geral, pôr alguma da nata indie nova iorquina – Leithauser incluído – a folgar valentemente com canções sobre tigres, cascavéis e Beatles.


Peter Bauer, o discreto baixista/teclista, demonstra igualmente como, sob o quase anonimato do "line up" dos Walkmen, se escondia um excelente "songwriter" capaz de dedicar uma gravação completa aos combates com a fé nas suas várias e venenosas manifestações, num registo confessadamente influenciado por Roberto Bolaño e Elvis Presley (sim, isso mesmo), algures entre Tom Petty, Costello e Dylan, e que autoriza o diálogo com Richard Dawkins e Jorge Luís Borges (não, não é gralha).

FKA twigs (I)




Parece que os superpoderes do Chiquinho só funcionam no ludopédio
“Às vezes, uma reacção adequada à realidade é enlouquecer” (Philip K. Dick)

 
I Love My Daddy
 
Lá estão, outra vez, os comunas do "NY Times"...

13 August 2014

LIMPAR O PÓ AOS ARQUIVOS (XVI)

(com a indispensável colaboração do R & R)

(clicar na imagem para ampliar)

É verdade, o tipo sabe do que fala: o banco da Vaticano S.A. está aí para o provar

A LEI DO MENOR ESFORÇO 


Morrissey meteu-se num enorme sarilho com a publicação da sua Autobiografia em Outubro do ano passado. Já tínhamos todos, evidentemente, a noção de que, em matéria de autores de canções capazes de lidarem virtuosa e eruditamente com a linguagem, no perímetro pop, não havia assim tantos capazes de se elevarem ao nível do fundador dos Smiths. O problema é que, desde aquele volume editado pela “Penguin Classics” que o colocou na companhia de Virgílio, Homero, Sterne, Borges e Pessoa, a fasquia elevou-se de tal modo que, a partir daí, só muito dificilmente poderiam tolerar-se passos em falso. Sim, enquanto literatura pura e dura, as "memoirs" eram boas demais para que não se estabelecessem, de imediato, novos parâmetros de avaliação. É verdade que, como toda a recente discografia de Morrissey, também a Autobiografia não era, integralmente, ouro de lei: a uma primeira parte absolutamente assombrosa de autêntica e vertiginosa espeleologia do passado seguia-se um venenoso e desnecessariamente extenso ajuste de contas com o universo em geral. 


E é, justamente, isso que obriga a reparar, como, por exemplo, na faixa-título de World Peace Is None Of Your Business, é embaraçoso escutar-se rimas adolescentes do género “Brazil and Bahrain, oh Egypt, Ukraine, so many people in pain” ou, em "The Bullfighter Dies", “Mad in Madrid, ill in Seville (...), gaga in Malaga, no mercy in Murcia, mental in Valencia”. Cinco anos depois de Years Of Refusal, o que incomoda não são as já previsíveis “inconveniências” de Morrissey – caso, aqui, da idiota misoginia de "Kick The Bride Down The Aisle", da “ciência política” de taxista de “each time you vote you support the process” ou do ridículo vegetarianismo de panfleto de “wolf down t-bone steak, cancer of the prostate” – mas sim a raridade de verdadeiras pérolas e o desleixo como, no plano de textos e música (entre um rock de mão muito pesada e a persistente tendência para o turismo sonoro no perímetro arábico-ibérico), ele parece ter-se rendido à lei do menor esforço. Com romance de estreia anunciado para breve, dir-se-ia que a escrita de canções passou a ser assunto menor. Para nos consolar, fica pouco mais do que a quase larkiniana "Oboe Concerto": “The older generation have tried, sighed & died, which pushes me to their place in the queue”.
Ó stôr, olhe aquele menino!

Desmascaradas as falsas videntes, faça-se saber que apenas serão consideradas autênticas as que forem certificadas pela Vaticano S.A.
Lauren Bacall (1924 / 2014)

To Have and Have Not - real. Howard Hawks (1944)