28 August 2024

 
(sequência daqui) Mais prosaicamente, David Lynch tinha "caixotes e caixotes" de gravações de Angelo Badalamenti (o seu fidelíssimo compositor desaparecido em 2022) bem como do "sound designer" Big Dean Hurley aos quais, carinhosamente, chamava "lenha para a fogueira". Já habituado a trabalhar com Chrystabell - na banda sonora de Inland Empire (2006), no álbum de 2011, This Train, no EP Somewhere In The Nowhere (2016), e, enquanto actriz, na pele da agente, Tammy Preston, em Twin Peaks: The Return (2017) -, convocou-a para, no seu Asymmetrical Studio, de Los Angeles, participar em sessões de improvisação e montagem sonora experimentais. A inspiração, recorda Lynch, vinha ainda de Angelo Badalamenti: "Ele costumava dizer, 'David, tudo se resume a estas 12 notas'. Mas esta música talvez contenha mais do que 12. Quando arriscamos acidentes e ousamos experiências, tudo é diferente". É verdade. Mas se, na obra cinematográfica de David Lynch, os desdobramentos e multiplicações de figuras e personagens desenvolvem uma fertilíssima (i)lógica própria, em Cellophane Memories, a voz de Chrystabell - um soprano velado, sussurrado sobre o microfone - fantasmaticamente duplicada, triplicada, "cut-up", "looped" e revertida, gera apenas uma massa sonora vocal confusa, desnecessariamente informe e sem rumo. (segue para aqui)

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