29 October 2025

Contributo para a lei da nacionalidade

 
“Vim ao mundo, por acaso, em Portugal, não tenho pátria, sou sozinho e sou da cama dos meus pais, sou donde vos apetecer, sou do mar e sou do corpo das mulheres estranguladas nos canais” ("Descansa A Cabeça", Sérgio Godinho)

"Deixa o facho, especado, a falar sozinho"

Hoje, às 17h30, na SIC-Notícias, decidi inaugurar um novo passatempo nacional: "Deixa o facho, especado, a falar sozinho".

Nas democracias adultas, não há espaço para gentalha mentirosa.
Não há espaço para quem elogia ditadores que mataram, perseguiram, prenderam e torturaram adversários políticos.
 
Os democratas têm que começar a virar a mesa. A deixarem-se de punhos de renda e a fingirem que gente porca, odiosa e malcriada se pode sentar à mesma mesa que nós.
 
Se cada um/a de nós, que preza a Liberdade e se recusa à gritaria que visa silenciar a maioria, moderada e sensata, continuamos a permitir que haja crianças a ser alvo de "bullying" e pessoas a serem humilhadas em público.
"Cale-se!".
Vai mandar calar a Senhora tua mãe.
Habituem-se.
Querem mesmo jogar esse jogo?
"Two can play that game".
Os grunhos continuarão a grunhir. 
Mas nenhum/a de nós está obrigado a tolerar o ataque à verdade histórica e o elogio de regimes autoritários.
Vem daí!

Começamos este movimento nacional tão nobre quanto necessário: "Deixa o facho, especado, a falar sozinho". (Miguel Prata Roque)
 
 
(sequência daqui) E propunham uma - chamemos-lhe assim - visão do mundo que poderia resumir-se a "Os seres humanos estão a involuir". Inspirados por teóricos lamarckianos do século XIX e sua errática descendência tardia - H.G.Wells, personagens dos DC comics, Kurt Vonnegut ou H. P. Lovecraft -, o quinteto de Akron, Ohio, composto por por dois pares de irmãos, (Mark e Bob Mothersbaugh, Gerald e Bob Casale) e Alan Myers, retirariam o seu nome e a sua filosofia global desse conceito de "de-evolução/involução. Segundo o crítico de música Steve Huey, a banda "adaptou a teoria à sua visão da sociedade americana como um instrumento de repressão rígido e dicotómico que assegura que os seus membros se comportam como clones, marchando vida fora com a precisão mecânica de uma linha de montagem, sem tolerância para a ambiguidade" O documentário acompanha a ascensão da banda do estatuto de putos excêntricos de Akron a heróis de culto da cena punk dos anos 70 e, posteriormente, a estrelas da MTV. Ao longo do filme, recordamo-nos como o seu repertório não se resume a "Whip It" que, em 1980, se instituiria como o único verdeiro sucesso de vendas dos Devo (14º no Hot 100 da "Billboard"). Canções como "Jocko Homo" e "Beautiful World" surgem não como curiosidades bizarras, mas como críticas mordazes disfarçadas de música pop. Ao vermos hoje os vídeos da banda, com os seus desastrados cenários de cartão e coreografias espasmódicas, parece-nos menos um exercício de nostalgia e mais um momento de arte profética — como se, décadas antes, tivessem antecipado a cultura do TikTok. A teoria social da "de-evolução", seria uma ideia central no trabalho inicial da banda, que se caracterizava por um estilo agrestemente dissonante de art-punk que combinava rock com música eletrónica. (segue para aqui)
Arco de chuva

26 October 2025

Ghost Train Orchestra Plays Moondog

(ver aqui e aqui)
Crosby, Stills, Nash & Young - "Ohio"

(ver também aqui)
Uma obra de arte imperfeita 
 (... ou então...)

INVOLUÇÃO
Uma montagem aluada de velhos filmes de arte granulados, máscaras de borracha e espectáculos (dizer "concertos" seria impossivelmente generoso) em que uma hipotética banda parece metade genial e metade demente. É esta a porta que, subitamente, se escancara para nos permitir ser testemunhas da alucinação que parecia ser o modo de vida habitual dos Devo, criaturas que, desde o início, não se dedicavam exclusivamente à música: encenavam também performances absurdas que se diria concebidas durante um ensaio científico que não correu da melhor maneira. Porém, por trás do aparente disparate galopante, existia uma origem surpreendentemente séria. Os fundadores dos Devo, Gerald Casale e Mark Mothersbaugh, eram estudantes em Kent State, no Ohio, aquando dos tiroteios de 4 de Maio de 1970, e assistram à morte de amigos às mãos da Guarda Nacional. Neil Young escreveria a canção 'Ohio' e com os mui próximos Crosby, Stills & Nash, rapidamente a gravou e publicou fazendo vibrar as palavras "Four Dead In Ohio" como hino da oposição à guerra do Vietname. Os Devo, pelo seu lado, em vez de se converter em filósofos soturnos, transformariam o trauma em sátira, constituindo uma banda que desmontava o conformismo, a política vigente e o consumismo, assumindo o aspecto de equipa de mecânicos de um mundo distópico que, por acaso, entrassem num estúdio de televisão (daqui; segue para aqui)

23 October 2025

STREET ART, GRAFFITI & ETC (CCCXXXVIII

Lisboa, Portugal, 2025 (ogringo)

 

"Nothing And Forever"

(sequência daqui) Quatro anos depois, a história repetir-se-ia: após aquilo que Emma Swift descreve como "um esgotamento nervoso de 7 semanas" que obrigaria a internamento hospitalar, ela - recorrendo, desta vez, apenas a originais seus - encontraria em The Resurrection Game o lugar que buscava: "Acredito que há espaço para canções sobre a verdadeira dor mas o mundo encoraja-nos a anestesiar o que nos aflige por todos os meios possíveis. Este álbum é sobre passar tempo com a nossa tristeza, abraçar essa dor e enfrentá-la". Envolvidas em avassaladoras orquestraçôes, não escaparemos nunca ao seu poder de cantos de sereia sob a tempestade.

 

22 October 2025

2025 - Prémio "As virtudes do diálogo" 


"Foi sempre muito fácil dialogar com ele sobretudo em matérias sobre as quais estávamos essencialmente de acordo"
(António Costa acerca de Francisco Pinto Balsemão, 04'55")
Edifício da Rua Braamcamp, 3A-B, esquina com a Rua Duque de Palmela 35-37 (c.1910): prédio de rendimento construído em 1902, foi residência de Afonso Costa; em 1972, foi ocupado pelo semanário "Expresso"

 

20 October 2025

O arrasador regresso da

CANTOS DE SEREIA
Estava-se a meio do primeiro mandato do energúmeno Trump e Emma Swift - autora de programas de rádio, em Sydney, na Austrália e, em 2013, transplantada para Nashville, Tennessee - sentia-se encurralada: "Tinha 30 e tal anos e ainda não tinha resolvido nenhum dos meus problemas de infância nem encontrado um ponto de equilíbrio nas minhas relações. Por outro lado, Donald Trump tinha sido eleito e sentia-se uma mudança muito tóxica na atmosfera cultural com um certo fascismo rançoso a levantar a cabeça". Como forma de superar a depressão, em modo de automedicação musical, experimentou a terapia Dylan: "Ele é um 'songwriter' que sempre me pareceu supremamente confiante, aparentemente, nunca tolhido por dúvidas. Apeteceu-me estar na pele dele. E, para isso, nada melhor do que atirar-me às suas canções, como quem experimenta uma peça de roupa”. Emma nunca se vira como uma autora de canções especialmente fértil mas, nessa altura, secara-lhe a inspiração. "Bob Dylan não me ensinou apenas a escrever canções, ensinou-me também a ser artista, activista, a fundir o literário e o musical". O resultado seria Blonde On The Tracks (2020), espécie de fusão entre Blonde On Blonde e Blood On The Tracks que funcionaria como elixir milagroso. (daqui; segue para aqui)

 "Beautiful Ruins"

17 October 2025

Primeiro, parem para 
pensar um bocadinho

 "The Avant Garde"
 
(sequência daqui) A propósito de "Everybody Laughs" ("Everybody's going through the garbage, looking for inspiration, someone find it staring at the ceiling, of the subway station"), uma captura caleidoscópica e alegre da sociedade - que poderia ser protagonizada pela figura de careto psicadélico criada pelo artista belga Tom Van Der Borght para carnavalizar a encenação -, Byrne explica-se: "Alguém que conheço disse-me: 'David, usas muito a palavra 'todos'. Suponho que o faça para dar uma visão antropológica da vida em Nova Iorque tal como a conhecemos. Todos vivem, morrem, riem, choram, dormem e olham para o tecto. E todos calçam os sapatos dos outros, o que não acontece realmente com todos, mas eu já o fiz. Tentei cantar sobre algumas coisas que podem ser vistas como negativas com uma sensação de elevação proporcionada pelo ritmo e pela melodia. Especialmente no final, quando a St. Vincent e eu desatamos aos gritos e a cantar muito juntos", continuou. "A música tem esse poder de acomodar opostos em simultâneo". É verdade. Recordando a sua longa relação com o funk e o afrobeat, Byrne combina texturas orquestrais e agilidade rítmica e abraça o contraste: arranjos de câmara que colidem com percussão inquieta, momentos de intimidade que explodem em iluminação carnavalesca.

Erik Satie (1866 1925)

(IV) 

Erik Satie - Parade


Parade is a ballet premiered in Paris in 1917 with music by Erik Satie, scored to a one-act scenario by Jean Cocteau with costumes and sets designed by Pablo Picasso. This new version of Parade revisits the ballet on an interdisciplinary platform featuring contemporary dance, stop motion animation, puppetry and projection dancing.
Assim amiguinhos é que é bonito
("Expresso"")

15 October 2025

14 October 2025

David Byrne - "What Is The Reason For It?" (ft. Hayley Williams)
 
(sequência daqui) Segundo ele (em declarações à "Rolling Stone"), o álbum é "uma oportunidade para nos transformarmos na criatura mítica que todos temos dentro de nós. Uma oportunidade para entrar noutra realidade. Uma oportunidade para transcender a prisão dos nossos egos". E acrescentou: "Na minha idade, pelo menos no meu caso, há uma atitude de 'estou-me bem nas tintas para o que as pessoas pensam' que se instala. Posso sair da minha zona de conforto com a certeza de que já me conheço um pouco e sei o que estou a fazer. Ainda assim, cada novo conjunto de canções, é uma nova aventura. Há sempre ali um pouco de 'Afinal, como é que isto funciona?' Tenho constatado que nem todas as colaborações resultam, mas quando resultam, é porque consigo transmitir claramente o que estou a tentar fazer. Espero que compreendam e que, a partir daí, nos encontremos juntos a caminho do mesmo lugar desconhecido".  (segue para aqui)
"I'm good at solving wars
I'm good at making peace"
Há para aí umas 4ªs classes 
muito mal feitas

11 October 2025

Diane Keaton (1946 - 2025)
(como Kay Corleone, The Godfather Part II, 1974)
Para que conste: todos os prémios - repito: TODOS OS PRÉMIOS! - seja do que for e em que continente for, são implicitamente dedicados ao gorila côr de laranja!

10 October 2025

David Byrne: Who Is The Sky?, Social Media in Music, & Looking Forward | Zane Lowe Interview
 
(sequência daqui) Mas do que uma mudança radical, a inteligência rítmica de Remain In Light continua presente, a teatralidade de American Utopia persiste e a ironia das letras das colaborações com St. Vincent (também aqui presente) permanece. Nesta fase da trajectória de David Byrne, a própria ideia de um "novo álbum" tem um significado particular. O David Byrne dos Talking Heads era o futurista nervoso, que catalogava a vida moderna com guitarras inquietas e declaraçõe em staccato. O David Byrne de American Utopia era uma espécie de xâmane cultural, levando o público a participar em rituais comunitários no palco e no ecrã. Agora, com Who Is the Sky?, Byrne não se apresenta como profeta ou guia, mas sim como observador minucioso, utilizando a lente da idade e da experiência para observar a complexidade da condição humana com uma nova perspetiva. (segue para aqui)

07 October 2025

Title sequence (XVI  
 
Honey Don’t titles: design process
"For director Ethan Coen's movie Honey Don't, Paul Donnellon designed a creative mini road movie using documentary footage filmed in Bakersfield. Paul edted the footage to the music track "We Gotta Get Out Of This Place" originally sung by the Animals. Paul took the signs of the various shops and road side locations as a cue and turned each one into a stylised design to hold the actors and crews credits. Some were hand painted to match the lo-fi handmade typography of the shops and with a bit of ageing to distress the graphics to sit them in effectively to the location shots. In a few shots 3d graphics were used to replicate a motel sign or a perspex light box. Each credit had to be tracked in after effects and also cinema 4d to keep it mapped to the travelling building it is placed on. In a few tricky shots the credits had to be hand tracked when the shot didn't have enough detail for the tracking system. The final sequence flows nicely and creates an atmosphere to bring the viewer into the desert location".

05 October 2025

(sequência daqui) Após a publicaçao em Abril de 2023, de Songs and Symphoniques: the Music of Moondog, (em torno da música do lendário "Viking da 6ª Avenida", reinterpretada pela Ghost Train Orchestra, pelo Kronos Quartet e avulsos notáveis vários (Rufus Wainwright, Joan Wasser, Jarvis Cocker, Petra Haden, Sam Amidon, Aoife O'Donovan), David Byrne que, durante um dos concertos em Brooklyn, entusiasmado com a variedade de instrumentos da Ghost Train, não resistira a subir ao palco com o grupo, deixou-se arrastar pela ideia de entregar as suas novas canções a um ensemble de bateria, percussão, guitarra, baixo, cordas e sopros. No fundo, apenas um prolongamento e diversificação da estratégia de American Utopia: "Senti que a opção por arranjos orquestrais mais íntimos realçaria a emoção que me parece estar presente nestas canções", diz Byrne, "É algo de que as pessoas nem sempre se aprecebem no meu trabalho, mas desta vez tive a certeza de que estava lá. Ao mesmo tempo, também me vejo como alguém que pretende ser acessível". (segue para aqui)

03 October 2025


"This one's dedicated to all you Gucci bag carriers out there. It's called 'You Got Gooood Taste', says Lux introducing one of rock'n'roll's most appealingly danceable hymns to cunnilingus" ("Mojo" Novembro 2025)

01 October 2025

NÃO É O LIMITE

Em Janeiro de 2018, ainda a meio do 1ª mandato presidencial de Donald Trump e a 2 anos do início da devastação pandémica, David Byrne criou “Reasons To Be Cheerful”, um site-antídoto para um muito particular tipo de sensação que, dizia, não deveria ser ele o único a experimentar: “Suponho que, tal como muitos de vós quando recordam o último ano, parece que o mundo caminha direito ao Inferno. De manhã, acordo, olho para o jornal e, ‘oh não!’... por vezes, fico metade do dia deprimido. Não importa em quem votámos ou qual a nossa simpatia ideológica, o sentimento é transversal a todo o espectro político”. Ao mesmo tempo, em Março desse ano , ocupava-se com o lançamento e a digressão do álbum, American Utopia. Passaria por Cascais, a 11 de Julho, acompanhado pelos 12 elementos de uma meia marching band, meia escola de samba brasileira, como ele, todos descalços e de fato Kenzo cinzento, sobre o qual, em arnês de metal, apoiavam vários instrumentos (uma bateria desconstruída e dividida por seis executantes, teclados) acrescidos de baixo e guitarra. (daqui; segue para aqui)