18 January 2009

AS MANAS DA JOANNA



Parenthetical Girls - Entanglements

Não será o tipo de associação que ocorre imediatamente. Mas, prestando um pouco mais de atenção, não deverão restar muitas dúvidas de que, entre Ys, de Joanna Newsom e este Entanglements, dos Parenthetical Girls, existem muito mais pontos de contacto do que se poderia supor. Em primeiro lugar, as vozes: se os miados de Newsom pressupõem um limiar de tolerância de uma generosidade sem limites, o falseto afectado de Zac Pennington constitui um teste extremo à capacidade de “anger management” de um monge zen. Depois, os textos das canções, em ambos os casos, rebuscadamente pretensiosos e a fazer uma perninha no inglês “arcaico”, ainda que, no caso dos Girls, com a atenuante de uma ou outra simpática badalhoquice (uma estrela * para elas) do género “throat red as fresh-stretched post-fuck flesh”. Acrescente-se a flatulência da ambição “conceptual” – em Ys, a mitologia bretã, aqui, um libretto de ópera trágica gay, sonhando febrilmente com o estatuto de peça “maldita”. A estrela que sobra vai, então, para os magníficos arranjos orquestrais de Matt Carlson e Jherek Bischoff que (tal como sucedia com os de Van Dyke Parks no álbum de Joanna Newsom) semeiam microcataclismos sonoros por entre labirintos circenses e inventam prodígios de cabaretismo mutante em torno de melodias nenhumas.

* (método de classificação absurdo de discos, filmes, livros e outras manifestações artísticas que tiranizou a quase totalidade dos media - falo do ponto de vista do oprimido)

(2009)

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