27 May 2024

 
(sequência daqui) Tal como Bowie, adoptando sempre um ponto exterior na observação do mundo, desta vez, contudo, All Born Screaming apresenta-se sem máscaras nem maquilhagem: "Neste álbum não há nenhuma persona. Sou apenas eu e o som dentro da minha cabeça. Interessa-me mais o que é cru e essencial". E, como que ecoando as palavras de Frank Sinatra em The Man With The Golden Arm (1955), de Otto Preminger - "Here we go, down and dirty" -, acrescenta que, no momento em que o gravava, "tive de lidar, literalmente, com a vida e a morte. A morte é muito clarificadora porque nos obriga a comprender o que importa e o que não importa. A primeira metade do disco é uma base - trate-se de morte, destruição ou do nosso próprio monólogo interior de brutal auto-repugnância, quando olhamos o abismo e sentimos que a vida é impossível - e, depois, a segunda parte admite que ''Se temos de aguentar a merda da vida, agarremo-la, então, pela jugular!'" Em Madrid, no Prado, viu uma das Pinturas Negras, de Goya - Saturno Devorando o Filho -, e interrogou-se sobre os limites do Mal. O álbum iria ser severo, brutal, "a preto, branco e com as cores do fogo". (segue para aqui)

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